sábado, novembro 19, 2016
A CHEGADA (Arrival)
Muito bom poder acompanhar o processo de maturidade criativa de um cineasta que tem conquistado seu espaço por seus próprios méritos e sem fazer concessões, como é o caso do canadense Denis Villeneuve, que tem mostrado sua autoralidade através de filmes bem distintos entre si. Com relativamente poucos mas marcantes títulos no currículo, ele já pode se dar ao luxo de fazer autorreferências, como se pode notar em A CHEGADA (2016), seu novo e aguardadíssimo filme. Quem viu O HOMEM DUPLICADO (2013) e SICARIO – TERRA DE NINGUÉM (2015), para lembrar de obras mais recentes, pode perceber intercessões claras com o novo trabalho.
Será comum encontrar em algumas críticas referências a outros filmes de contatos entre seres de outro planeta e a Terra, como O DIA EM QUE A TERRA PAROU, de William Wyler; CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU e GUERRA DOS MUNDOS, ambos de Steven Spielberg; ou CONTATO, de Robert Zemeckis; mas Villeneuve prefere seguir outro caminho, mais arriscado. O trailer, embora entregue alguma coisa, ainda não é suficiente para dar a dimensão das surpresas e do grau de encantamento que A CHEGADA proporciona.
Assim como em SICARIO – TERRA DE NINGUÉM, temos uma protagonista feminina em uma situação perigosa, em um ambiente perigoso. Em A CHEGADA, somos apresentados a uma conceituada linguista, a Dra. Louise Banks (Amy Adams, como sempre, adorável), que é recrutada pelos militares americanos para decifrar a língua dos enigmáticos alienígenas que acabaram de aparecer em 12 diferentes lugares do planeta. Desde o início, ficamos sabendo, em pouquíssimos mas eficientes quadros, de um passado doloroso da personagem, envolvendo uma filha, que ela perdeu para uma doença rara. Em pouco tempo, já temos um breve painel da solidão e da dor dessa personagem.
E esse passado, que será revivido em breves flashbacks, será explorado ao longo do filme, durante o processo de comunicação com os extraterrestres, mostrados de forma um tanto assustadora. Aliás, podemos dizer que Villeneuve é um dos cineastas em atividade que melhor sabe explorar o medo através de maneiras distintas, seja em situações mais realistas, seja em uma narrativa do gênero fantástico. Não é diferente quando somos apresentados ao interior daquilo que pode ser chamado de nave, um objeto gigante parecido com uma lente de contato, que paira sobre o solo. Por isso, comparações com o monolito negro de 2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO, de Stanley Kubrick, também podem surgir. Até porque ambos os filmes optam pela utilização do gênero para transcendê-lo e falar de algo maior, sem que, com isso, o entretenimento seja prejudicado.
Ainda sobre o elenco, vale destacar a importância do personagem de Jeremy Renner para a trama. Ele faz o matemático que auxilia a protagonista a decifrar a linguagem complexa daqueles alienígenas. A pergunta que não quer calar é: Por que eles estão aqui? O roteiro do filme, baseado em um conto de Ted Chiang chamado "Story of Your Life", é bastante detalhista, e isso ajuda bastante a gerar um grau de interesse para o espectador, que até torce para que a conclusão faça jus à introdução e ao desenvolvimento brilhantes.
Felizmente, ao preferir se distanciar do óbvio e dar um nó na cabeça do espectador, Villeneuve aumenta ainda mais o grau de encantamento inicial, através de uma trama em que futuro e passado não devem ser vistos como algo linear, mas talvez como em um daqueles círculos complexos fornecidos pelos extra-terrestres durante as tentativas de comunicação. Assim, não só a noção de tempo passa a ser questionada, mas também a noção do que poderíamos considerar como sendo mais importante, seja do ponto de vista pessoal ou global. Além do mais, é sempre bom sair de uma sessão arrebatado, sabendo, ou pelo menos achando, que você acabou de ver um dos melhores filmes dos últimos anos.
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