sábado, setembro 17, 2016

VIDAS PARTIDAS























Confesso que quando vi no cinema DE ONDE EU TE VEJO, de Luiz Villaça, não sabia quem era Domingos Montagner. Mas dava para perceber o quanto se tratava de um grande ator neste filme sobre separação conjugal. O que eu não sabia era que o ator já era destaque em produções televisivas, como a telenovela CORDEL ENCANTADO, de cinco anos atrás. Mas Montagner foi certamente um talento que se revelou tardio para a televisão e para o cinema.

Mas que bom que em 2016 tivemos a sorte de tê-lo em três produções para o cinema: além da citada comédia dramática de Luiz Villaça, o vimos no drama VIDAS PARTIDAS (2016), de Marcos Schechtman, e na comédia UM NAMORADO PARA MINHA MULHER, de Julia Rezende. (Além disso, o ainda inédito ATRAVÉS DA SOMBRA, de Walter Lima Jr., está previsto para estrear em novembro, e conta com o ator em um dos papéis principais.)

O que se percebe nos personagens dos três filmes de 2016 estrelados por Montagner é uma versatilidade rara em atores em geral, que costumam se apegar a tipos e personas que lhe caem bem e com isso ficam relaxados. VIDAS PARTIDAS, ainda que não seja tão bom e delicado quanto o filme de Villaça, é um trabalho que explora bastante a potência do ator, morto na última quinta-feira, levado pelas águas do Rio São Francisco, em um intervalo das filmagens da novela VELHO CHICO.

Logo que o filme começa, há uma cena de intimidade dos protagonistas: Raul (Montagner) e sua esposa Graça (Laura Schneider). Na cena, o casal vive um momento de sexo tórrido, enquanto os filhos estão fora de casa. Mas há algo no modo como Raul trata Graça que incomoda um pouco: sua selvageria no trato com a mulher, que passa quase a impressão de que estamos presenciando uma espécie de estupro consentido.

A impressão se justifica à medida que vamos conhecendo o caráter do personagem, e o quanto ele evolui ao ponto de parecer um psicopata. Ou de ser um psicopata, já que o que ele faz com a mulher ao longo da narrativa é inacreditável, de tão terrível. VIDAS PARTIDAS é um filme que tem a intenção de mostrar a violência doméstica. Não é baseado em uma história real, mas, como informa no final, é baseado em diversas histórias reais de abusos domésticos que as mulheres sofrem diariamente.

O que pode contar pontos tanto negativos quanto positivos para o filme de Schechtman, um diretor vindo da televisão e que estreia no cinema aqui, é justamente as inacreditáveis ações de Raul, o que eleva o filme a um suspense com tintas bem carregadas. Laura Schneider também está muito bem como a mulher que sofre com a violência do marido e que depois é obrigada a buscar forças de onde parecia não ter para enfrentá-lo.

Em alguns momentos, VIDAS PARTIDAS até parece um suspense vulgar hollywoodiano, mas em outros parece uma obra cheia de vigor e brilho próprio, muito por causa do desempenho do casal de atores e também pelo incômodo que nos provoca à medida que as ações de Raul vão se tornando mais e mais perigosas. Dá para sair do cinema bastante tenso.

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