quarta-feira, agosto 03, 2016

POLYTECHNIQUE



Antes de encantar multidões com INCÊNDIOS (2010) e de depois ficar mundialmente conhecido em Hollywood com OS SUSPEITOS (2013), Denis Villeneuve já tinha dito a que veio com POLYTECHNIQUE (2009), um filme que poderia ser muito bem encarado como o seu ELEFANTE, levando em consideração a semelhança temática com a obra-prima de Gus Van Sant. Para muito, inclusive, principalmente os detratores da obra do cineasta canadense, POLYTECHNIQUE é o seu melhor e talvez único grande filme. O que eu vou discordar, mas que não vem ao caso agora.

Pra mim, este filme teve uma coincidência terrível: no dia seguinte em que o vi, assisti a uma entrevista no programa Altas Horas, de uma garota que sobreviveu a um massacre ocorrido em uma escola em Realengo, interior do Rio de Janeiro, em 2011. E o mais curioso de tudo foi eu ter me esquecido deste caso tão terrível, depois de passados apenas cinco anos de sua veiculação maciça na mídia. Para vermos o quanto somos egoístas quanto à dor alheia. A garota que deu entrevista não foi uma das 12 pessoas mortas, mas levou um tiro que a deixou sem o movimento das pernas.

O massacre apresentado em POLYTECHNIQUE ocorreu em 1989 em uma escola em Montreal, no Canadá. Foi o maior da história de um país que tem fama de ser pacífico. 14 estudantes do sexo feminino foram mortas neste dia por um psicopata que odiava as feministas. E o pior de tudo é que vivemos em um momento tão particularmente delicado que não será nenhuma surpresa se algo desse tipo acontecer novamente. O mundo está mais perigoso e mais cheio de pessoas desse tipo.

Denis Villeneuve teve a boa ideia de filmar sua obra em preto e branco, de modo que o sangue derramado não adquira uma tonalidade tão brutalmente realista. Lembra um pouco a decisão estética de Hitchcock em PSICOSE, mas aqui, especificamente, funciona como uma busca por respeitar as vítimas da tragédia. E ainda traz um final tão lírico e emocionante, com a carta de uma das moças sobreviventes à mãe do homem que matou suas amigas. As últimas palavras são de arrepiar e fecham de maneira extraordinária este filme que a todo instante procura adotar um tom não muito elevado.

Essa elegância na demonstração contida dos sentimentos e do respeito à dor das pessoas envolvidas está em cada momento do filme. Está na angústia do rapaz que tentou ajudar e que falhou no dia. Está na economia de gestos que o filme prefere adotar, a fim de dar à obra um tom seco e pungente, mas bem longe do sensacionalismo.

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