terça-feira, agosto 16, 2016
KIDS
A memória de quando vi KIDS (1995) no cinema – provavelmente no mesmo ano de seu lançamento nos Estados Unidos – era a de um filme tão excitante quanto proibido. Ou excitante justamente por ser proibido. Revê-lo pouco mais de vinte anos depois pode ter mudado bastante minha percepção do filme. Até porque minhas lembranças de minha primeira vez são nebulosas – o que não esquecia mesmo era da cena da piscina, do beijo das meninas, e também do exame de HIV da personagem de Chloë Sevigny, em sua estreia no cinema. Vinte anos com carinha de quinze. Perfeita para o papel.
O filme também foi a estreia na direção de Larry Clark, que desde então ganhou a fama de cineasta controverso, que mantém até hoje. Era também a estreia do roteirista e futuro cineasta Harmony Korine, então com apenas 19 anos. A idade dessa turma envolvida na produção de KIDS ajudou o filme a entrar em sintonia com aquela nova juventude, e intimidade para falar dos garotos misóginos e das meninas vítimas da escrotidão deles.
Um momento marcante do filme é uma edição que mostra o contraste entre as diferentes conversas sobre sexo entre meninos e meninas. A edição mostra a conversa sobre a experiência sexual dos meninos, com uma visão mais misógina e também necessitada de estar sempre confiante e dono da situação, e a das meninas, mais sincera e confessional.
Quanto à sensação de estar vendo algo proibido, isso se estabelece logo na primeira cena: nela, vemos dois adolescentes na cama, prestes a transar. A garota é virgem, o menino a beija e diz que o sexo vai ser muito bom, que ele vai ser muito gentil com ela. O fato de vermos dois jovens na pré-adolescência fazendo sexo e em closes de beijos tão próximos provoca ainda uma reação mista de excitação, repulsa e indignação, já que percebemos o mau caráter do menino, sua intenção de colecionar virgens e abandoná-las. E o pior: passando o vírus HIV para elas.
O drama da menina, Jenny (Sevigny) que transou pela primeira vez com ele é até hoje bastante tocante. Naquela época, meados dos anos 1990, ter o vírus da AIDS ainda era o fim do mundo, embora já houvesse medicamentos que ajudavam a pessoa a ter uma vida quase normal. Era preciso ser forte, portanto. E ver a personagem no final da narrativa, naquela festa regada a muita bebida, drogas e sexo, sem saber o que fazer da vida, e tentando alertar uma garota que seria a nova vítima do menino soropositivo, chega a passar uma sensação de desesperança imensa.
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