terça-feira, junho 07, 2016
UMA LOUCURA DE MULHER
Há filmes que parecem não ter razão de existir. Ou não se sabe ao certo o motivo de terem sido concebidos. É o caso de UMA LOUCURA DE MULHER (2016), que até remete um pouco às screwball comedies da velha Hollywood, mas também à tradição de comédias brasileiras que têm predominado há décadas em nosso cinema. O que incomoda é que, ao remeter a um tipo de comédia feita nos anos 1950 ou 60, o filme também fica preso no tempo no que se refere à tradição preconceituosa e machista de tratar a mulher como uma desequilibrada ou totalmente subjugada à vontade do homem.
A mulher do título, Lúcia, vivida por Mariana Ximenes, é uma ex-bailarina que abandonou a carreira para se dedicar à vida de esposa de político, o deputado e candidato a governador Gero, vivido por Bruno Garcia. As coisas mudam para Lúcia quando ela percebe que um político muito importante para a ascensão do marido tem mais interesse em levá-la para a cama do que exatamente apenas dançar com ela. O tal político é vivido pelo saudoso Luís Carlos Miéle, em seu último papel nas telas.
Mas mesmo com esse cheiro de naftalina até que o filme poderia ter alguma graça se o diretor Marcus Ligocki Jr. soubesse tirar algo de engraçado dessa história toda. Lembrando que um bom exemplo desse tipo de cinema que já nasce velho é NINGUÉM AMA NINGUÉM... POR MAIS DE DOIS ANOS, de Clovis Mello, que no entanto conseguiu resultados interessantes e satisfatórios em vários momentos. Aqui, Ligocki Jr. não consegue fazer rir e nem sabe (ou não quer) usar o filme como uma boa pornochanchada, aproveitando a beleza de Ximenes e também de Miá Mello. As duas, aliás, já se mostraram muito bem em comédias e não dá para atribuir a elas o fracasso do filme.
Ainda assim, UMA LOUCURA DE MULHER não é de todo ruim. É daqueles filmes que se assiste até o final sem ficar (muito) constrangido e também sem se cansar, o que pode não ser muita coisa, mas ao menos não saímos dizendo que o odiamos ao fim da sessão. Outra coisa: como é raro hoje em dia os filmes começarem com os créditos iniciais e trazendo uma abertura nos créditos com animação retro, já podemos vê-lo com alguma simpatia.
O fato de a história ser bastante movimentada também ajuda a tornar a diversão leve e relativamente fluida. Principalmente quando a personagem foge para o Rio de Janeiro e lá conhece a fauna do prédio, como a vizinha que tudo vê e o porteiro simpático. E ainda há o reencontro com o primeiro namorado, o que quase torna o filme interessante. O problema é que o diretor e suas duas roteiristas põem tudo a perder quando as situações parecem se encaminhar para algo razoavelmente satisfatório.
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