sábado, junho 04, 2016
TRUMAN
Histórias sobre amizades masculinas existem no cinema desde muito tempo. Talvez as mais famosas da primeira fase de Hollywood sejam as contadas por Howard Hawks, especialista nisso. Depois outros diretores e outras gerações viriam a lidar com o assunto também com muito carinho. No caso de TRUMAN (2015), a história de amizade entre Julián (Ricardo Darín) e Tomás (Javier Cámara) tem como principal rival a temática da morte iminente e a consequente despedida.
E certamente por isso é que se trata de um filme que fez tanto sucesso de público, crítica e em festivais e premiações. Só no Goya, o Oscar espanhol, o novo trabalho de Cesc Gay ganhou cinco prêmios, incluindo filme, diretor, ator e ator coadjuvante, apesar de Cámara ser tão protagonista quanto Darín. O que talvez diminua um pouco o seu protagonismo seja a atuação de Darín, um gigante que eclipsa a todos sem fazer o menor esforço. Cámara funciona como o escada das cenas. O que não quer dizer que ele também não esteja muito bem.
Na trama, Tomás é um espanhol que mora no Canadá e que está em Madrid por alguns dias para visitar o amigo Julián, que se encontra muito doente. O motivo da visita é revelada aos poucos, mas logo nos minutos iniciais: Julián rejeitou continuar o tratamento de quimioterapia, já que lhe resultaria inútil, levando em consideração que o mal já havia se espalhado por todo o seu corpo. Assim, mesmo contra o que dizem os amigos e familiares, seus últimos dias serão para aproveitar o pouco que lhe resta da vida e fazer alguns preparativos para a morte, entre eles conseguir alguém para adotar o seu cão de nome Truman.
O amor de Julián pelo cachorro é comovente e há pelo menos três cenas envolvendo o animalzinho que justificam o título do filme. Mas é mesmo a relação com o melhor amigo Tomás que faz toda a diferença. Como Julián está sem dinheiro, ele acaba explorando bastante o amigo, que aceita sem fazer muita questão. É como se o filme estivesse ali nos dizendo o tempo todo que o dinheiro não tem importância diante da falta da saúde e da posterior ausência definitiva de alguém.
Um dos aspectos positivos de TRUMAN é o quanto o filme não se esforça para arrancar as lágrimas do espectador nessa temática um tanto pesada. Não que o trabalho de direção não abrace o melodrama. Mas há uma diferença muito grande entre criar uma história usando tintas mais carregadas a preferir a suave e serena despedida de Julián, com algumas cenas, certamente, com maiores intenções de causar lágrimas, como a do abraço entre pai e filho. E o diretor ainda guarda algumas cartas de grande emoção para o final, o que faz de TRUMAN um presente para muitos.
Claro que o filme só se tornou realmente grande por causa de Ricardo Darín. Mas o trabalho de direção de Gay e sua equipe técnica é também louvável. Em nenhum momento sentimos a hora passar. É como se tudo estivesse no lugar certo, na hora certa, sem nenhum excesso. Como vemos o filme pela ótima de Tomás, é como se nos tornássemos também melhores amigos desse sujeito especial que é Julián, e o seguíssemos nesse processo doloroso de encerrar a existência terrena e dar adeus às pessoas que mais importam. Não é pouco.
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