sábado, maio 07, 2016
CERTO AGORA, ERRADO ANTES (Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da)
Dizem que se você viu um filme de Hong Sang-soo, você viu todos. Tem um pouco de lógica, mas, por outro lado, se você viu apenas um filme deste genial cineasta sul-coreano, certamente estará perdendo muita coisa boa de sua já generosa filmografia, que atualmente reúne 21 títulos, entre longas, curtas e segmentos. Esse tipo de lógica errônea também valeria, aliás, para outros cineastas de características obsessivas.
Um dos aspectos presentes em boa parte de seus filmes é a repetição. E Sang-soo gosta muito de brincar com isso, como pode ser visto em A VISITANTE FRANCESA (2012), em que percebemos outro elemento bastante comum em sua filmografia: a figura do homem bobalhão em frente a uma mulher linda que desperta sua paixão ou que, por isso mesmo, possa também tornar uma aproximação um bocado atrapalhada. Outro elemento bastante comum é o uso de zooms desconcertantes, que podem ser conferidos também no belíssimo drama FILHA DE NINGUÉM (2013).
Em CERTO AGORA, ERRADO ANTES (2015), um retorno à comédia, o exercício da repetição de Sang-soo se estende em duas histórias que ocorrem em uma espécie de universo paralelo da mente de seu criador. A primeira metade do filme nos apresenta a um cineasta que, usando de vaidade e de seu status, e também aproveitando que está sozinho na cidade, procura se aproximar de uma jovem que encontra. Não demora muito para que ele a convide para um café e depois isso se estenda para outros programas durante o dia. Acontece que o jeito atrapalhado e um tanto bobão desse homem acaba fazendo com que ele cometa alguns deslizes e a história dos dois acaba não saindo um final feliz.
O segundo segmento do filme é uma espécie de repetição de alguns eventos da primeira parte, mas com a vantagem que este homem agora aparece com trejeitos bogardianos, como se tivesse ganhado o poder do charme e do sucesso com as mulheres, ainda que junto disso venha também um certo ar esnobe.
Como a vida não é feita de ensaios ou segundas chances, tudo o que vivemos é ganho ou perda. Ou um pouco de tudo. O filme de Sang-soo carrega um ar agridoce justamente por apresentar esse tipo de visão da vida, de como ela está longe de ser como nas comédias românticas de Hollywood, embora o diretor acabe restringindo essa sua visão ao seu universo particular, provavelmente muito voltado a si mesmo, ao modo como ele encara a sorte nos relacionamentos.
Comparações com obras de cineastas como Eric Rohmer, Woody Allen (que já chegou a fazer um projeto duplo como esse, MELINDA E MELINDA) e Richard Linklater podem surgir, mas isso só atesta a qualidade que o filme tem de agradar aos espectadores que apreciam o modo como o tema dos relacionamentos é trabalhado, de preferência com longos diálogos que flagram momentos tanto de falta de tato por parte de seus protagonistas, como de pequenos sucessos. Mas Sang-soo tem um estilo bem próprio e certamente pode ser encarado como um dos cineastas mais importantes da contemporaneidade.
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