sábado, março 12, 2016

PALÁCIO DE VÊNUS



Vamos combinar: um filme que conta no elenco com Helena Ramos, Matilde Mastrangi e Neide Ribeiro e ainda é escrito e dirigido por Ody Fraga não tem como ser ruim. Até por Fraga ser um ótimo roteirista de histórias eróticas, um provocador dos costumes sociais e também ter um excelente senso de humor – que o diga o antológico SENTA NO MEU QUE EU ENTRO NA TUA (1985), um de seus poucos filmes com conteúdo explícito, na época da decadência da Boca do Lixo.

PALÁCIO DE VÊNUS (1980) é de uma fase áurea do diretor e roteirista. Foi lançado um ano antes do ótimo A FÊMEA DO MAR (1981) e no mesmo ano de A NOITE DAS TARAS (1980). Com relação ao título, além do fato de a história se passar em um bordel de luxo, não há muitas semelhanças com o fino O PALÁCIO DOS ANJOS, de Walter Hugo Khouri. Fraga não é tão sofisticado assim. Mas sabe muito bem construir momentos eróticos memoráveis e valorizar o rico elenco feminino que tem.

A história, como já dito, se passa em um prostíbulo de luxo, e lá somos apresentados a algumas moças que trabalham para atender da melhor maneira possível os seus clientes. O legal é que cada uma delas tem um estilo diferente: Helena Ramos é a religiosa, ela tenta convencer as colegas que o que estão fazendo é pecado, mas ao mesmo tempo não consegue sair dali; Matilde Mastrangi é a mulher prática, que até tem um noivo que tem planos de usar o dinheiro dela para aplicar em projetos futuros; já Neide Ribeiro é a que gosta de confusão, a que clama as demais para uma greve de sexo justo numa noite dedicada a executivos.

Há também uma jovem que usa o físico de adolescente para se passar por colegial; a charmosa dona do bordel (vivida por Elizabeth Hartmann); e uma espécie de intrusa: a filha da mais antiga prostituta do lugar. Todas elas têm momentos de brilho na narrativa. E esses momentos envolvem desde um golden shower até uma sensacional cena de sexo em que uma família inteira (pai, mãe, filho e filha) chegam ao lugar em busca de diversão. É provavelmente a cena mais erótica do filme, lidando com tabus, fetiches e sexo grupal.

Alguns momentos são particularmente belos em sua composição, como a cena de Helena Ramos fazendo sexo com um sacristão e usando um sino. Aliás, é a cena que é usada para ilustrar o belo cartaz desenhado. A cena do sorteio de uma virgem também é um dos pontos altos, não apenas do ponto de vista erótico, mas também dramático da história.

Enfim, PALÁCIO DE VÊNUS é um belo trabalho sem grandes pretensões de grande arte, mas que é muito bem feito na costura das subtramas, da construção das personagens arquetípicas, e que é muito mais excitante do que muito pornô que é feito hoje em dia, embora não deva ser visto como tal, se a intenção é mesmo ver, sem segundas intenções, um bom filme dos tempos áureos da Boca.

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