sábado, março 26, 2016
NOVE CURTAS VISTOS NO 9º FOR RAINBOW
Nem faz tanto tempo assim, se imaginarmos que outubro já é próximo do fim do ano. Mas, na minha cabeça, é como se o 9º For Rainbow – Festival de Cinema e Cultura da Diversidade Sexual tivesse acontecido há séculos. A nossa memória nos prega truques e parece que quanto mais a gente tenta registrar nossas impressões sobre determinado filme, livro ou o que quer que seja, mais essa memória vai ficando viciada nisso. Pra que melhor exemplo do que esses tempos em que não podemos mais viver sem o Google? No futuro, acredito que teremos uma espécie de HD extra implantado no cérebro (ou na nuvem, sei lá), a fim de que possamos obter informações extras mais facilmente. Bom, mas vamos ver se sai alguma coisa a respeito desses curtas (nacionais e internacionais) dos quais me recordo tão pouco. De todo modo, vale dizer que o festival foi um belo exemplo de respeito às diferenças.
AMANHÃ (Tomorrow)
Um tanto previsível, ainda que simpático, AMANHÃ (2014), de Leandro Tadashi, tem a vantagem também de ser acessível e nada chato, embora não ofereça nada de novo nem de muito interessante. O filme nos apresenta aos amigos de longa data Clark e Trevor. Um deles sente uma atração física pelo outro e na véspera de ano novo, quando se imagina que Trevor vá dizer algo animador, ele só pede a Clark que ele saia com ele para lhe ajudar a ficar com uma garota que ele tem interesse.
1 MÊS E 2 DIAS (1 Mes y 2 Días)
É até bem bonito, mas parece um desses filmes feitos para exibição em cerimônias de casamento, com direito a fotos de momentos especiais de um casal, no caso, formado por duas mulheres. 1 MÊS E 2 DIAS (2014), da argentina Silvana Lopa, tem o seu charme, tanto pela beleza das imagens, quanto pelo sentimento que transborda da alegria em comemorar esse tempo em que elas estão juntas.
DUDU ESTÁ SOLTEIRO
Curioso eu ter destacado DUDU ESTÁ SOLTEIRO (2015), de Roberto Limberger, entre os melhores dos curtas que vi no festival. Talvez por ser um trabalho que é bastante carregado de (homo) sexualidade sem ter medo de passar do ponto. É um dos filmes mais explícitos no que se refere a pegações sem culpa e a cenas de sexo (ou ao menos preliminares) entre rapazes. Mostra de maneira bem humorada as aventuras sexuais de Dudu.
CHANSON D'AMOUR
A única coisa que eu realmente gostei do filme foi de uma música que toca lá perto do final. Lembra a banda carioca Columbia. Devia ter anotado o nome para, quem sabe, conseguir ouvir agora, por exemplo. Mas é bom também o momento das duas meninas na cama, ainda que seja bem curto, dentro de uma trama fraca. Apesar do título em francês, CHANSON D'AMOUR (2015), de Renata Prado, é brasileiro. Na sinopse, Luiza se apaixona por Clara, a guitarrista da sua nova banda, e compõe uma canção de amor, mas é perseguida pelo ex-namorado de Clara.
NOTURNA
Não consegui ver muita graça nesse curta sobre um dia na vida de uma travesti em Alagoas. Mas achei interessante a cena do telefonema. Tem que ter cota mesmo para filme sobre travestis e transexuais nesses festivais de diversidade. É uma questão política, como o curta deixa claro. NOTURNA (2014), de Nivaldo Vasconcelos, nos apresenta a uma pessoa que espera a noite, o único momento em que ela pode ser ela mesma, mesmo que nas sombras. Tem algo de bem melancólico nele.
ACORDA
Seis anos antes do longa-metragem RÂNIA (2011), Roberta Marques já ensaiava uma história sobre alguém com ânsia de ir embora da cidade, do país, enquanto também dialogava com a geografia de Fortaleza. Belo filme. Muito bom o festival ter nos dado a oportunidade de conhecer ACORDA (2005), este curta-metragem de Roberta, que dialoga tanto com sua obra posterior quanto com boa parte do público que sente essa vontade de partir.
A TROCA (Shift)
Belíssima animação fantástica de Maria Cecilia Pugliesi e Yijun Liu, A TROCA (2015, foto) é uma produção americana sobre confrontação e autodescoberta. Somos apresentados a duas mulheres que são antagonistas. Uma é da cidade, recatada, que fica em seu lugar, com uma roupa preta de puritana, e a outra é uma mulher selvagem, que vive de maneira mais livre. Pena que dura apenas cinco minutos.
JAVAPORCO
É daqueles filmes que precisam ser vistos mais de uma vez. Não entrei na viagem e acabei não entendendo, o que dificulta algum julgamento ou melhor apreciação. É o caso de filme pouco palpável, etéreo, e que fica ainda mais distante com o tempo. JAVAPORCO (2015), de Will Domingos e Leandro das Neves, é um filme que trabalha com a natureza, seja o canavial descrito, seja o próprio sentimento do protagonista.
ARIANAS
O único filme cearense da mostra oficial que eu vi (acho que era o único mesmo), ARIANAS (2014), de Hylnara Anny, me pareceu problemático no modo como sua narrativa se desenvolve e se conclui, mas as ideias parecem muito boas e a realizadora tem potencial para fazer coisas mais interessantes. Gostei da busca da alegria depois da tragédia, sem, no entanto, apagar o terrível crime.
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