segunda-feira, março 07, 2016
MEU AMIGO HINDU (My Friend Hindu)
Asssitindo MEU AMIGO HINDU (2015) nos perguntamos o que aconteceu com Hector Babenco, aquele cineasta fantástico que já nos brindou com obras, brasileiras e internacionais, sempre muito inspiradas e com conteúdo relevante e rico? Isso porque a tão aguardada obra pessoal em que o cineasta lida com a sua experiência de quase morte na luta contra a leucemia acabou se tornando uma mancha em sua carreira. Claro que não deixa de ser curioso, já que, apesar de ser um filme cheio de falhas, é um trabalho feita por um cineasta talentoso e de muita experiência fílmica.
Mas o fato é que MEU AMIGO HINDU é uma obra cuja curiosidade está mais para o terreno do mórbido. Não porque trata de um filme sobre câncer - nem chega a ser um bom filme sobre câncer, na verdade -, mas porque há tantas sequências constrangedoras que é como se estivéssemos assistindo ao declínio de um cineasta. Por mais que saibamos que as filmagens foram conturbadas e o projeto todo teve que ser reencenado em inglês depois da entrada de Willem Dafoe como protagonista, essa estranheza mostra o quanto uma língua estranha contribui para criar um certo incômodo no filme. E por incômodo não nos referimos aqui ao bom sentido do termo.
No começo até parece curioso ver aquele monte de gente de rosto conhecido do cinema e da televisão brasileiros contracenando em inglês com um grande ator como Dafoe, mas depois que isso passa nos resta a vergonha de estar vendo uma obra que também tem um monte de problemas de ritmo. Como se Babenco, ao estar de saco cheio de tanto ter obras suas barradas em editais e não conseguir filmar nada desde O PASSADO (2007), acabou por abandonar o gosto pela condução narrativa.
Claro que aqui e ali vemos belas sequências encenadas de maneira muito bonitas e Dafoe, particularmente, está relativamente bem no papel, mas isso é pouco para o diretor de PIXOTE - A LEI DO MAIS FRACO (1981), BRINCANDO NOS CAMPOS DO SENHOR (1991) e CORAÇÃO ILUMINADO (1998). Aliás, CORAÇÃO ILUMINADO já servia muito bem como o filme que lidava com a sombra da morte, depois de o cineasta ter passado pelo que passou na luta contra a doença.
Aí ele vem e faz um filme chamado MEU AMIGO HINDU, cujo título mal se justifica dentro do conteúdo geral da obra, já que esse pequeno personagem, além de pouco aparecer na história, não tem uma contribuição afetiva quando aparece, nem quando o cineasta procura resgatá-lo para concluir sua história semiautobiográfica.
Mas isso é o de menos quando vemos uma cena tão equivocada, para usar de eufemismo, como a cena da dança na chuva da personagem de Bárbara Paz. Isso, levando em consideração que estamos falando de uma cena relativamente longa com uma mulher nua dançando, e que deveria ser um dos pontos altos de qualquer filme. Será que se fosse com outra atriz a coisa funcionaria melhor? Bárbara não é das mais talentosas. E mais: o que é aquela citação horrível de O SÉTIMO SELO, de Bergman, com o Selton Mello fazendo o papel da morte e tentando criar um diálogo espirituoso e não conseguindo um resultado minimamente satisfatório?
Por outro lado, Maria Fernanda Cândido consegue passar uma dignidade em sua personagem que chega a ser admirável diante de tantos momentos embarassosos.Suas cenas íntimas com Dafoe acabam sendo os pontos altos do filme. Ao final, ficam as curiosidades sobre o que é biográfico e o que é fictício. Mas talvez isso não seja importante, já que o próprio cineasta tratou de afirmar que muito do filme é invenção. Talvez para resguardar a própria privacidade
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