terça-feira, fevereiro 09, 2016
CIÚME À ITALIANA (Dramma della Gelosia (Tutti i Particolari in Cronaca))
Como é de praxe aqui neste espaço, costumo ver filmes de artistas, principalmente cineastas, mas também atores e atrizes, que faleceram, como uma forma de homenageá-los. A escolha de CIÚME À ITALIANA (1970) foi tanto por ser uma das obras que eu não havia visto ainda de Ettore Scola (falecido em 19 de janeiro, aos 84 anos), quanto por ser elogiado por alguns amigos. Confesso, porém, que é um filme que me causa certos sentimentos contraditórios.
Acho que comecei a achar estranho logo no começo, quando, Adelaide, a bela personagem de Monica Vitti, fica encantada por um sujeito dormindo no lixão, Oreste, vivido por Marcello Mastroianni. Scola faz questão de não usar filtros embelezadores de modo a tornar a cena menos suja. Há até uma mosca entre os dois, que simboliza a presença de Oreste. Segundo Adelaide, seria mais belo se fosse uma borboleta, mas já que é uma mosca, é uma mosca bonita, é a mosca deles. Como ela é bela demais para um sujeito em tão franca decadência, ele pensa estar sonhando, mas logo ganha beijos e juras de amor.
Há, porém, uma tragédia envolvendo a história. E Scola já antecipa isso logo no começo, quando Oreste conta à polícia como se deu a cena do crime que vitimou Adelaide. Logo, já sabemos de antemão que ela morrerá. Porém, como há várias cenas de humor, a classificação de tragicomédia não seria de todo errada, embora eu veja o filme com certa amargura, mesmo os personagens agindo de maneira exagerada na manifestação de suas paixões: amor, raiva, ciúme etc. A cena de Oreste ligando para Adelaide e ela o rejeitando é de partir o coração.
A crise no relacionamento de Oreste e Adelaide se dá quando ela começa a ter um caso às escondidas com Nello (Giancarlo Gianinni), um pizzaiolo que calha de ser também parceiro de Oreste nas passeatas do Partido Comunista Italiano. Ambos são militantes de esquerda e o próprio diretor parece ser também um entusiasta do comunismo, que na época ainda parecia ser um sistema político viável, com direito a valorização de Mao e da bandeira da União Soviética. Para quem vive de maneira pobre, faz todo o sentido reclamar do sistema vigente, em busca de melhores condições de vida.
No campo narrativo, um dos destaques de CIÚME À ITALIANA é a forma como é contada a história, a partir de depoimentos de pessoas envolvidas com o autor do crime ou com a vítima. Assim, vemos tanto Oreste, quanto Nello, ou outros personagens secundários, dando sua contribuição na construção da história para a polícia e para o espectador, com direito a quebra da quarta parede e junções criativas desse tipo de recurso com a história principal.
CIÚME À ITALIANA foi a primeira parceria de Scola com Mastroianni. A amizade dos dois no cinema se estenderia por mais sete filmes, sendo que pelo menos dois deles estão entre as melhores obras do cinema italiano moderno: ROCCO PAPALEO (1971), NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO (1974, no papel dele mesmo), UM DIA MUITO ESPECIAL (1977), CASANOVA E A REVOLUÇÃO (1982), MACCHERONI (1985), SPLENDOR (1989) e CHE ORA È? (1989).
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