segunda-feira, fevereiro 15, 2016
BROOKLIN (Brooklyn)
Eis um filme que vai conquistando aos poucos o espectador. BROOKLIN (2015) inicia aparentemente um pouco atabalhoado, com uma pressa de enviar logo sua protagonista para os Estados Unidos, mas talvez isso tenha sido para melhor. Uma vez que Eilis (Saoirse Ronan) está em Nova York, numa comunidade irlandesa, sua história começa a ficar mais e mais interessante, muito fácil de criar uma empatia até em espectadores que nunca sofreram com a saudade da família e do lar, estando em um país distante.
Na trama, Eilis é uma jovem de uma família simples da Irlanda que consegue, através de um padre irlandês que trabalha nos Estados Unidos (Jim Broadbent), uma chance de ter melhores condições de vida na "terra das oportunidades". Ela já vai, inclusive, com um emprego garantido e hospedagem na pensão de uma senhora muito tradicional e exigente no que se refere a comportamento, ainda que as meninas que lá moram vivam tirando sarro dela.
Depois de tanto chorar de saudade de casa e de escrever e receber cartas de sua terra, a vida de Eilis muda bastante quando ela conhece um rapaz italiano muito gentil e disposto a ter um relacionamento sério com ela. O amor e o carinho que recebe elevam o espírito de Eilis, que passa a ter um comportamento mais confiante e mais feliz diante da vida no novo país, assim como melhor desempenho no trabalho - numa loja de perfumes. Com tudo melhorando, a vida no velho continente vai ficando em segundo plano. Até que algo acontece e chama Eilis de volta para lá e a deixa dividida.
BROOKLIN já é o sexto longa-metragem de John Crowley, embora seja o primeiro que tenha revelado o seu nome para o grande público, graças, principalmente à indicação ao Oscar. O que é muito bom, pois há nomes quase invisíveis, mesmo no cinema em língua inglesa, que precisam mesmo desse tipo de empurrãozinho, a fim de que novos talentos sejam conhecidos por uma audiência maior no circuito internacional. O filme anterior do diretor, CIRCUITO FECHADO (2013), foi lançado direto em DVD no Brasil, mesmo tendo um elenco de nomes bastante conhecidos.
Como BROOKLIN se passa na década de 1950 e não no início do século, a chegada dos imigrantes é bem menos traumática e difícil do que a apresentada em ERA UMA VEZ EM NOVA YORK, de James Gray, ainda que sejam mostrados tanto a difícil viagem de navio até o novo mundo, quanto a tensão e a possibilidade de se ficar em quarentena se alguém da imigração desconfiar que determinado imigrante está doente.
O escritor Nick Hornby, aqui como roteirista, contribui para que a narrativa de BROOKLIN flua com naturalidade e sensibilidade e com vários momentos de humor suave. Daí a semelhança do filme com outro trabalho de Horny que ganhou também os holofotes graças à temporada de premiações, EDUCAÇÃO (2009), de Lone Sherfig.
Destaque também para a bela e caprichada reconstituição de época, para as cenas de retorno na Irlanda, que elevam ainda mais o filme a um patamar mais interessante, e às performances de seus atores, em especial Saoirse Ronan, que está adorável, mas também Domhnall Gleeson, que faz o atraente pretendente de Eilis em sua terra natal. Aliás, é interessante notar também o quanto a personagem, em sua relação de amor e desamor com a Irlanda, acaba parecendo saída de um conto de James Joyce, escritor que lidava com a questão da paralisia reinante em seu país, retratada no comportamento dos personagens.
BROOKLIN concorre ao Oscar nas categorias de melhor filme, atriz (Saoirse Ronan) e roteiro adaptado.
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