domingo, janeiro 24, 2016
A GRANDE APOSTA (The Big Short)
O fato de A GRANDE APOSTA (2015) ter vencido o PGA, o prêmio do Sindicato dos Produtores, aumenta suas chances de vencer o Oscar na categoria principal. O lado ruim disso é que o filme de Adam McKay está longe de lidar tão bem com o mundo dos negócios como o ácido, provocativo e genial O LOBO DE WALL STREET, de Martin Scorsese, que concorreu à categoria principal dois anos atrás e que não tinha a menor chance no banco de apostas, apesar de ser melhor do que qualquer um dos indicados. Quase sempre acontece isso nessa premiação, aliás.
O curioso que A GRANDE APOSTA, que foi citado por um amigo como sendo o filme que finge explicar e o expectador finge entender, tem até mesmo a participação de Margot Robbie, justamente na primeira das supostas explicações didáticas. Afinal, com a bela atriz sensualizando dentro de uma banheira, quem ia conseguir prestar atenção em explicações tão específicas do mundo da Economia e dos negócios imobiliários?
É com essa intenção de ser engraçadinho que McKay fala de um assunto muito sério: o da crise econômica nos Estados Unidos em 2008, que contou com a participação até mesmo de uma pessoa que apostava na falência do sistema, ainda que ele tenha antecipado isto em alguns anos. Trata-se de Michael Burry, vivido de maneira brilhante por Christian Bale, que consegue passar todo o aspecto antissocial do sujeito, assim como o aparente estrabismo, por causa de um olho de vidro.
Essa é a grande aposta do título e muitos homens de negócio de Wall Street souberam do ocorrido e procuraram fazer o mesmo. É onde entram, principalmente, os personagens de Steve Carell, Ryan Gosling e Brad Pitt. O filme também mostra o quanto os bancos tentaram disfarçar a crise no mercado imobiliário, quando todo o castelo de cartas estava prestes a ruir.
Um dos problemas do filme é procurar expressar de maneira muito explícita e didática as consequências da falência do sistema econômico, no quanto isso ia trazer desemprego e fome para o país de forma quase imediata. Isso fragiliza um pouco a obra, embora ajude a trazer mais dramaticidade ao filme. E não deixa de ser uma maneira de tornar o assunto um pouco mais palatável e de tornar todas aquelas explicações econômicas em uma espécie de mcguffin, ou seja, algo que está ali, mas que não necessariamente é essencial para a compreensão global da obra, ainda que o espectador que compreende todos os meandros e detalhes daquele universo possa se sentir mais privilegiado durante a projeção.
Quanto a Steve Carell, ele já havia mostrado que consegue se sair muito bem no território dramático no sombrio FOXCATCHER – UMA HISTÓRIA QUE CHOCOU O MUNDO, de Bennett Miller, mas aqui, talvez pelo fato de as fronteiras entre o drama e a comédia serem mais tênues, alguns de seus momentos parecem saídos de THE OFFICE, o que acaba comprometendo um pouco as sequências mais dramáticas. No fim das contas, o fato de A GRANDE APOSTA ser do mesmo diretor das comédias O ÂNCORA (2004) e sua continuação, TUDO POR UM FURO (2013), acaba fazendo bastante sentido.
A GRANDE APOSTA foi indicado ao Oscar nas categorias de melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Christian Bale), roteiro adaptado e edição.
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