terça-feira, dezembro 22, 2015

MACBETH – AMBIÇÃO E GUERRA (Macbeth)



A palavra tem poder. Até quem não é religioso acredita nisso. E MACBETH – AMBIÇÃO E GUERRA (2015) é um filme sobre a palavra usada para gerar maldição, ou o florescer do que há de pior na alma humana. As primeiras cenas, que remontam à direção de arte e figurino de CORAÇÃO VALENTE, de Mel Gibson, com os escoceses pintados e vestidos para a guerra contra os ingleses, são apenas um breve prelúdio para aquilo que realmente importa: o encontro de Macbeth (Michael Fassbender), um general do exército escocês, com as três bruxas que lhe contarão que ele será um rei.

Isso vira a cabeça do sujeito que, incentivado pela esposa, Lady Macbeth (Marion Cotillard), passa a aceitar que, para ele atingir a estatura de um rei, é necessário que ele assassine o rei vigente, o bondoso Duncan, vivido por David Thewlis. Ao contrário do que se esperava, esta versão de Justin Kurzel da tragédia de William Shakespeare não é tão sangrenta. Para o bem e para o mal, já que às vezes passa a impressão de que é um filme que tem medo de parecer vulgar.

E realmente “vulgar” não é um termo que se use para esta produção, tão bonita de se ver e com uma dupla de atores tão competentes, para dizer o mínimo. Mas acontece que transpor Shakespeare para o cinema não é para todo mundo. E se Kurzel acerta em alguns momentos, ele comete o pecado de assinar um Macbeth frio, sem muitas emoções, talvez pela intenção em usar o texto original do bardo inglês.

Voltando à questão da força da palavra brevemente comentada no primeiro parágrafo, o filme destaca muito bem essa marca da peça, principalmente quando vemos Lady Macbeth orando para as forças do mal dentro de uma igreja cristã, de tão disposta que estava em atingir o seu objetivo. A cena não deixa de ser um tanto assustadora e um dos melhores momentos do filme. Novamente, o chamado através das palavras contribui para o terrível pecado, que depois perturbará o espírito daqueles que o cometeram.

Ver uma nova adaptação de MACBETH, assim como ver qualquer outra adaptação de obra famosa, é já saber a história e apreciar o que ela apresenta de novo, percebendo também o quanto o trabalho literário continua forte passados já vários séculos de sua escritura. Neste ano mesmo, por exemplo, tivemos a chance de ver o brasileiro A FLORESTA QUE SE MOVE, de Vinícius Coimbra, que não muda tanto assim a trama original quanto se imagina. Portanto, o diretor, qualquer que seja, sabe que a história já é conhecida por muitos e que o filme será visto também por uma parcela de apreciadores de William Shakespeare. Logo, o novo filme vale pelo que ele traz de diferente.

O que Kurzel traz de novo nesta adaptação é, além da velha história contada através de atores novos, a bela fotografia que privilegia o vermelho em suas tonalidades  – o próprio céu é lindamente vermelho. Há também os silêncios que servem como contraponto para as palavras fortes e poéticas do texto. Servem também para imprimir uma atmosfera de crescente tensão, acentuada pela trilha sonora que utiliza instrumentos de percussão nos momentos mais intensos e violentos. Uma pena que todo esse cuidado não tenha trazido uma verdadeira catarse para o espectador, algo tão importante quando em se tratando de tragédias clássicas.

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