segunda-feira, setembro 07, 2015
RICKI AND THE FLASH – DE VOLTA PARA CASA (Ricki and the Flash)
Tenho um especial carinho pelos filmes de Jonathan Demme. Acho que por ter sido apresentado a dois deles no início da minha cinefilia: TOTALMENTE SELVAGEM (1986) na televisão e DE CASO COM A MÁFIA (1988) no cinema. Depois é que fui saber que ele é um cineasta muito ligado à música, tendo feito documentários e vídeos para artistas como Talking Heads, Bruce Springsteen, Neil Young e New Order (seu próximo projeto é um documentário sobre Justin Timberlake).
Desde O CASAMENTO DE RACHEL (2008) que Demme não realizava um longa de ficção para o cinema. É muito tempo para um cineasta oscarizado. Mas talvez isso tenha ocorrido porque ele veio dos filmes B e depois passou para trabalhos mais intimistas ou menores. RICKI AND THE FLASH – DE VOLTA PARA CASA (2015), apesar de ser protagonizado por Meryl Streep, é um filme menor. A gente percebe isso. Assim como também percebe o diálogo deste trabalho com o anterior (e bem melhor).
Assim como em O CASAMENTO DE RACHEL, o novo filme lida com problemas familiares e situações desconfortáveis. Uma pena que a escalação de Meryl Streep para viver a roqueira que abandonou a família pelo amor à música não tenha sido tão acertada. Provavelmente acreditaram que ela podia interpretar qualquer personagem e convencer – Kevin Kline, por exemplo, está numa chave muito mais discreta e confortável, combinando bem com o papel. Há uma cena com eles dois e a filha depressiva que é destaque: quando eles estão calmos depois de terem fumado maconha.
Na trama, Meryl Streep é Linda/Ricki, uma cantora de rock decadente de uma banda de veteranos que toca em um bar em uma pequena cidade da Califórnia. Em toda sua vida só gravou um disco e hoje vive de alegrar velhos e jovens com clássicos do rock ou hits contemporâneos, como canções famosas de Lady Gaga e Pink. Sua rotina é interrompida quando recebe uma chamada do ex-marido, informando que sua filha acabou de ser abandonada pelo marido e que está passando por uma depressão. Mesmo desconfortável, ela aparece na casa e tenta, à sua maneira, ajudar na recuperação da filha.
Ao mesmo tempo, percebe o quanto também esteve ausente da vida de seus outros dois filhos: o que está prestes a casar e o que é gay. A questão do desconforto nos relacionamentos também aparece nas apresentações da banda, já que ela não se sente à vontade para assumir publicamente o namoro com o guitarrista. É também durante uma dessas apresentações que ela faz um discurso que pode ser visto como feminista, falando do quanto para o homem estar ausente em uma família é normal, enquanto que para a mulher é algo imperdoável.
Apesar disso, RICKI AND THE FLASH não chega a ser suficientemente desconfortável, nem toca na ferida a fundo. Ao contrário, é um filme feel good, sem muita vergonha de sê-lo. De todo modo, mesmo com todos os defeitos, é um trabalho de personalidade e com a cara de seu diretor.
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