domingo, setembro 13, 2015
LOVE
Sexo sempre foi um chamariz para o público desde os primórdios do cinema. Passou por objeto proibido diversas vezes, mas o curioso é o quanto a nossa sociedade atual se tornou hipócrita no que se refere a exibições de filmes com conteúdo erótico (ou pornográfico, vá lá), mesmo com uma classificação 18 anos. LOVE (2015) é um filme que tem sentido muita dificuldade em penetrar no circuito exibidor. Foi rejeitado pelo Cinemark e no grupo Cinépolis passa em sessões pra lá de tarde. Enquadram-no como um pornô, quando não é exatamente o caso.
Na sessão em que estava, logo que começou, uma moça começou a rir nervosamente. A primeira cena mostra, graficamente, um homem e uma mulher masturbando um ao outro. Demora um pouco, assim como demoraram os risos da moça. Só pararam quando o sujeito, enfim, ejaculou. Ao menos, nesse sentido, Gaspar Noé, mostra logo na primeira cena que o seu filme apresentará esse tipo de material ao longo de sua metragem. Quem quiser ir embora, fique à vontade.
Mas, infelizamente, as cenas de sexo raramente são excitantes. Aliás, até mesmo na pornografia hardcore encontrar algo verdadeiramente excitante tem sido uma aventura muitas vezes frustrante. No caso de LOVE, dá até saudade de NINFOMANÍACA, de Lars Von Trier, que era mais divertido e excitante à sua maneira. Mas principalmente lembramos do infelizmente pouco visto NA CARNE E NA ALMA, de Alberto Salvá, esse sim um filme que consegue aquilo que o alter-ego de Gaspar Noé não consegue, que é saber encontrar no sexo o sentimento de amor, que sabemos que existe nos relacionamentos, e passar isso através de seu trabalho.
Quando Murphy, o protagonista masculino, fala que sua intenção como cineasta é chegar a esse ponto, sabemos a essa altura que aquilo era também a intenção de Noé. E como o filme trata também de frustração e da perda do amor, entendemos que o filme, direta ou indiretamente, acaba dialogando também com as frustrações do próprio cineasta.
De positivo, há o paralelo com IRREVERSÍVEL (2002), tanto no uso da montagem que brinca com o tempo cronológico (acrescente-se o uso da tela preta um pouco mais demorada que o usual nos cortes), quanto na obsessão pelo vermelho na fotografia, e na questão da busca por aquele momento mágico que é o início de tudo, de quando o tempo ainda não tratou de destruir. Aliás, dessa vez ele não culpa o tempo, mas as ações dos indivíduos. Somos o produto de nossas ações, de nossas escolhas. Talvez dizer isso seja simplista demais, mas pelo menos é um pouco melhor que a antiga frase.
LOVE conta a história de Murphy, um estudante de cinema que tem um casamento monótono com Omi e que recebe uma ligação da mãe de sua ex-namorada, a artista plástica Electra. Ela está desaparecida e a mãe teme que ela possa ter cometido suicídio. Preocupado com Electra e sem conseguir encontrá-la, Murphy passa a pensar no tempo em que estavam juntos, em alguns de seus melhores e também piores momentos. E do quanto aquele amor era muito mais verdadeiro do que o que ele nutre por Omi. Curiosamente os nomes dos personagens já trazem algo de pessimista ou de trágico: Murphy e Electra.
Curioso como o filme também acaba trazendo, meio que sem querer, um discurso até moralista, já que as crises de ciúme e as brigas surgem logo depois que eles encaram alguma novidade no terreno sexual, seja ir para um clube de orgia, seja fazendo sexo com outra pessoa às escondidas, seja entrando num threesome com um travesti, seja no uso de drogas. É como se eles estivessem fazendo sempre algo errado, cruzando uma fronteira que não deveriam, embora, na memória de Murphy tudo seja filtrado como parte de um ótimo momento que ele não soube aproveitar.
Uma pena que isso não seja explorado da maneira que causaria algum sentimento de solidariedade no espectador. Ou de proximidade. As cenas de sexo também não ajudam, embora sejam, em alguns momentos, graficamente belas, quando Noé enquadra certas posições de maneira criativa, dentro da janela scope. Mas isso é pouco para um filme em que o sexo é despido de tesão. Talvez a exceção seja o momento do ménage Murphy-Electra-Omi. Mas só nas preliminares. O sexo entre eles fica parecendo um monstro de seis pernas e seis braços que não tem função erótica ou de exalar beleza. A bela música, ao menos, ajuda a tornar a cena elegante. Nessa e em outra sequência, a boa música surge como um elemento quase salvador. Mas, no final, a sensação que surge é a de que LOVE é só uma jogada de marketing que não deu tão certo, e que pode significar uma nova retração na produção de filmes eróticos para o cinema.
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