sexta-feira, julho 03, 2015

CINEMA PARADISO (Nuovo Cinema Paradiso)



Falar de CINEMA PARADISO (1988), pra mim, é falar de um momento muito especial na minha vida: o momento de minha iniciação à cinefilia – o filme foi lançado aqui em 1990, no saudoso Cine Fortaleza. Talvez ver este trabalho de Giuseppe Tornatore naquele momento tenha consolidado o amor que eu até hoje nutro pelo sétima arte. Afinal, como pude constatar hoje, em sua reexibição em cópia nova em DCP, no agora Cine-Teatro São Luiz, o filme lida com o cinema e o amor como dois elementos que estão de mãos dadas o tempo todo.

Estão juntos quando o pequeno Totó (vivido na fase infantil por Salvatore Cascio) se apaixona pelo cinema e pelos bastidores da magia apresentados pelo projecionista Alfredo (Philippe Noiret). Junte a isso o terno vínculo de amizade que surge entre os dois. Já que o pai de Totó foi à guerra e não voltou, Alfredo é o que mais se aproxima de uma figura paterna. E essa relação entre eles é algo de enternecer o coração do mais bruto dos seres humanos. Como não chorar, por exemplo, na cena da estação?

O amor romântico por uma jovem moça também anda de mãos dadas com o cinema. O jovem Totó/Salvatore (Marco Leonardi) apaixona-se à primeira vista por Elena (Agnese Nano) e a primeira coisa que ele faz é filmá-la com sua pequena câmera. A imagem que ele tem de Elena é também filtrada pela câmera, tornando-a ainda mais apaixonante e bela.

CINEMA PARADISO também traz toda a simplicidade do povo do sul da Itália e o comportamento na sala de cinema. Fazem-se coisas no cinema daquele lugar e época que custamos a acreditar. É um momento de transição entre a censura imposta pelo padre a todo e qualquer beijo e o momento em que finalmente liberam até cenas de nudez, como a de Brigitte Bardot.

Giuseppe Tornatore é tão feliz em sua homenagem ao cinema que é até difícil citar apenas duas ou três cenas. Uma das mais mágicas é uma em que o público sedento por cinema se recusa a sair da sala e Alfredo faz a projeção em praça pública. Há outra sequência linda, que é a da chuva durante uma exibição ao ar livre de ULYSSES. Novamente, Tornatore une o cinema ao amor, dessa vez ao amor romântico, já que surge Elena para mudar aquela noite solitária de Salvatore. Não se sabe o que é mais bonito: ver Kirk Douglas gritando na chuva ou ver Salvatore e Elena aos beijos. Aliás, como esquecer a sequência de beijos no final?

CINEMA PARADISO é para ver mesmo com os olhos molhados. Até porque italiano tem essa coisa mais carregada nas emoções, sem medo de parecer cafona. Por isso uma cena de funeral é um convite às lágrimas, ainda que as lembranças de Salvatore daquele homem extraordinário que foi Alfredo sejam todas de afeto e gratidão. E é por isso que quem já viu o filme uma vez fica ainda mais emocionado na citada cena da estação de trem.

A exibição de CINEMA PARADISO no reformado Cine São Luiz foi uma celebração não apenas do filme de Tornatore, mas da ressurreição de um cinema de rua até pouco tempo atrás dado como quase morto. Ver aquele palácio lindo lotado de pessoas ávidas por um espetáculo memorável e vendido a preços populares, a revitalização de boa parte do Centro da cidade, gente saindo da sessão e andando para suas paradas de ônibus depois das dez da noite, tudo isso é um presente para Fortaleza, uma cidade que anda tão carente de atenção e cuja população precisa tomar de volta os seus espaços. Que isso seja só o início de uma linda conquista.

A Val, Babita e Sonia.

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