domingo, junho 28, 2015

RAINHA & PAÍS (Queen and Country)



Diretor de filmes marcantes da Nova Hollywood como À QUEIMA-ROUPA (1967), AMARGO PESADELO (1972) e EXCALIBUR (1981), o veterano cineasta inglês John Boorman anuncia a aposentadoria depois deste belo RAINHA & PAÍS (2014), continuação de um de seus trabalhos mais premiados, ESPERANÇA E GLÓRIA (1987).

Em ESPERANÇA E GLÓRIA, um garoto de nove anos cresce na Londres afligida pela Segunda Guerra Mundial, num registro inspirado nas memórias de infância do diretor e roteirista. Em RAINHA & PAÍS, passa-se cerca de uma década e o agora rapaz Bill Rohan (Callum Turner) é convocado para o exército. A guerra do momento é a da Coreia.

O filme, no entanto, se passa mais dentro do quartel, com bem poucas locações externas, sinal tanto de uma produção de baixo orçamento quanto de um filme realizado por um cineasta octogenário, que sente mais dificuldade em lidar com muitas complicações de produção.

RAINHA & PAÍS é também um filme claramente clássico, sem muita intenção de ser inovador, o que não impede de ser uma obra de puro prazer em sua simplicidade narrativa. Por outro lado, é um trabalho que não esconde a complexidade na construção dos personagens e dos temas. Lida com a questão da amizade de maneira que remete a alguns dos melhores trabalhos de Howard Hawks. No caso, o melhor amigo de Bill é Percy (Caleb Landry Jones), que ele conhece no primeiro dia de exército, com direito à famosa citação final de CASABLANCA.

As citações a clássicos do cinema apontam à cinefilia do cineasta, mas também procuram dissecar os problemas psicológicos de alguns personagens, como é o caso do amor platônico de Bill, a bela e complicada moça vivida por Tamsin Egerton, que tem uma visão pessimista/realista de RASHOMON, de Akira Kurosawa, cujas várias versões do mesmo fato trazem algo em comum: em todas as versões, a mulher é sempre estuprada.

O personagem de Bill ama esta moça desde a vez em que ele a encontra, em um espetáculo de música erudita. Ele poderia seguir o exemplo do amigo mais brincalhão e ficar com as que estavam dando bola pra ele, mas quem é que manda no coração, afinal?

Outra questão importante é a da desobediência civil, a necessidade de ser indisciplinado em um período totalmente distinto ao da Segunda Guerra Mundial. Agora as circunstâncias são outras e a obrigação de ser contra o comunismo é também questionada pelo protagonista.

Por outro lado, o destino do personagem do oficial Bradley, vivido por David Thewlis, também faz com que o filme torne mais complexa a separação entre gerações e um leve maniqueísmo que parecia existir anteriormente. Por essas e outras razões que RAINHA & PAÍS é um dos filmes mais prazerosos e carinhosos lançados no circuito este ano.

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