segunda-feira, junho 01, 2015

MARROCOS (Morocco)



E minha admiração pelo cinema de Josef von Sternberg aumentou com MARROCOS (1930), segunda parceria do cineasta com Marlene Dietrich, depois da produção alemã O ANJO AZUL (1930). Após esses dois filmes a parceria se repetiria por mais seis títulos, tidos como ainda melhores e mais representativos da estética de Sternberg.

Pra mim foi muito mais agradável ver a história de amor de MARROCOS, com uma Dietrich totalmente devotada a um amor por um legionário do que ver um homem velho sofrendo humilhações, ao se apaixonar e se casar com uma cantora de cabaré em O ANJO AZUL. Em MARROCOS, Dietrich também é uma cantora de cabaré. Mas exalando muito mais poder e sex appeal no palco. Talvez por isso mesmo a sua "queda", pensando na expressão inglesa "fall in love", seja tão impactante, mesmo sabendo que o personagem de Gary Cooper também a ama.

A cena da primeira vez em que Amy Jolly (Dietrich) sobe ao palco, vestida com trajes masculinos (cartola e gravata branca em um terno preto), é maravilhosa. Em seu pouco tempo no palco, depois de ouvir as vaias daquele público feroz, com paciência e segurança, ela inicia o seu canto. E faz isso com um encanto que afasta qualquer ligação com a vulgaridade, algo de que ela não conseguiu fugir em O ANJO AZUL.

O momento em que Amy beija a boca de uma mulher mostra o quanto aquela criatura nova e estranha ali tinha o poder em suas mãos. Poder sobre homens e mulheres, ricos e pobres. Um dos ricos, inclusive, a pede em casamento. É o terceiro elemento do triângulo amoroso formado pelo legionário pobre que nada tinha a oferecê-la se não o amor.

Entra, então, uma batalha interior muito comum entre as mulheres, quando se refere a ter duas opções: o que escolher, o amor sem dinheiro ou a falta de amor e o conforto que o dinheiro pode trazer? Dionísio versus Apolo. E não resta dúvida do quanto ela prefere se entregar ao amor.

Dizem que os filmes de Sternberg são barrocos e sendo o Barroco muito mais próximo do Romantismo do que da racionalidade do Classicismo, é natural que seus trabalhos exalem paixão. Uma paixão que é perfeitamente apresentada na inacreditável sequência final, que lida com o amor devotado em uma maneira poucas vezes vista no cinema. E podemos dizer isso também do personagem de Adolphe Menjou, que nunca força Amy a ficar com ele e na maioria das vezes tem que engolir o seu orgulho por amor a ela.

Dizer isso não é o suficiente para descrever o quão poderosa é a tal cena final, que obviamente não terá muito sentido sem acompanharmos a jornada da heroína. Aliás, como este trabalho de Sternberg é feminista, mesmo apresentando uma mulher que parece se submeter a uma situação de muito pouco orgulho, para usar de eufemismo. Afinal, as decisões de Amy são de espontânea vontade, embora os mais cínicos possam dizer que se trata de uma cegueira ocasionada pela paixão.

Ao ler um texto sobre o filme, escrito por Andrew Sarris, especialista no cinema de Sternberg, há a afirmação de que nunca Dietrich faria uma personagem tão indefesa (ainda que cheia de charme) e tão acessível quanto Amy Jollie. Eu, pessoalmente, fiquei apaixonado por essa mulher, pelo seu amor, pela sua coragem. MARROCOS ajuda e muito a entender o fenômeno Marlene Dietrich.

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