segunda-feira, abril 13, 2015

PASOLINI



Na falta de uma distribuidora que resolva lançar PASOLINI (2014) nos cinemas, temos mesmo que apelar para meios alternativos a fim de ver o mais recente trabalho de Abel Ferrara, que homenageia respeitosamente o cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, nos apresentando ao que seria o seu último dia de vida. E como sabemos que o diretor italiano foi brutalmente assassinado, já é de se esperar que o final apresente alguma cena chocante ou algo do tipo.

Não que isso não apareça em PASOLINI, mas Ferrara prefere não exagerar na violência da cena. Poderia parecer de mau gosto, ainda mais se a intenção é prestar uma homenagem ao diretor de SALÓ OU OS 120 DIAS DE SODOMA. Assim, embora a cena de sua morte seja dramática, não esperemos um torture porn. O que é mostrado já é suficientemente doloroso de ver.

PASOLINI foi lançado no mesmo ano de BEM-VINDO A NOVA YORK (2014), que também trata de uma pessoa real. Mas são filmes bem distintos, embora seja possível encontrar pontos em comum, se assim quisermos. Ambos os filmes tratam de sexo, de alguma forma, de personagens que têm que lidar com seus desejos proibidos. Seja o viciado em sexo de Gerard Depardieu, seja o homossexual em busca de um parceiro de Willem Dafoe. Ambos, por mais distintos que possam ser seus caráteres, são tratados com respeito por Ferrara.

Em PASOLINI, acompanhamos o cineasta italiano em companhia de sua família (inclusive, quem interpreta sua mãe é Adriana Asti, atriz de ACCATONE – DESAJUSTE SOCIAL, o primeiro trabalho de Pasolini); vemos sua relação com amigos próximos (destaque para a personagem de Maria de Medeiros); com a imprensa, já que seu filme, até então ainda não lançado e baseado na obra do Marquês de Sade, já provocava um burburinho bem intenso; e com aquele que seria o último garoto com quem ele sairia, Pino Pelosi, que seria condenado pelo crime.

Mas o filme de Ferrara também procura reconstituir, pelo menos em parte, o trabalho que Pasolini deixou por fazer, "Porno-Teo-Kolossal", que lida tanto com aspectos religiosos – um homem e seu amigo jovem seguem a estrela de Belém do Messias – quanto com profanos, como na cena do bacanal. A ideia de uma cidade regida por gays e lésbicas que devotam um dia no ano para que homens e mulheres possam transar em público e assim continuar a se multiplicar não deixa de ser bem interessante, e mostra o quanto o diretor italiano ainda escandalizaria, por mais que sua intenção fosse lutar por tudo que é belo e humano.

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