sexta-feira, abril 17, 2015
CINCO CURTAS
Curtas-metragens são, comparando com a literatura, como contos, no sentido de que são mais condensados em sua narrativa. E, em geral, por não terem tanta necessidade de agradar a um público grande, de não serem vendáveis e distribuídos em salas de cinema como os longas, mas exibidos a um público mais seletivo, o de festivais, podem se dar ao luxo de experimentarem mais a linguagem cinematográfica. Segue mais uma remessa de interessantes objetos culturais e de invenção produzidos no Brasil e também no exterior, dessa vez.
TREMOR
O filme de Ricardo Alves Jr., TREMOR (2013), é daqueles que se a gente piscar perde. Há no início um interessante e enigmático plano seguindo um cavalo, em seguida acompanhamos os passos de um homem que se dirige a um necrotério, onde terá que reconhecer um corpo. A câmera (na mão?) segue o homem com lentidão, como num filme dos irmãos Dardenne, de modo que ficamos um tanto anestesiados com esse andamento. Por isso é interessante revê-lo, a fim de captarmos o instante final, que é enigmático, mas pode ser mais ainda pra alguém que desviou o olhar por um segundo. TREMOR foi exibido primeiramente no Festival de Locarno, mas ganhou muitos prêmios em Brasília. O primeiro longa do diretor, derivado desse curta, ganhou nome e até distribuidora, antes mesmo de começar a ser feito. Chama-se ELON RABIN NÃO ACREDITA NA MORTE. Pra ficar de olho.
TIGRE
Provoca certo fascínio o modo como João Borges narra a história de seu tio-avô Arnaldo Tigre, depois de seu falecimento. Coisas do passado sempre me deixam interessado e com TIGRE (2013) não foi diferente. O jovem cineasta optou narrar sua história através de fotografias e cartas deixadas como arquivo a fim de reconstituir uma parte da vida desse homem que ele conheceu já no fim da vida. A narração em voice-over do diretor passa uma sensação agradável, enquanto vamos conhecendo um pouco mais da vida de Tigre, um boêmio viciado em jogo do bicho do Rio de Janeiro, que conheceu a mulher de sua vida já depois dos 40 anos, mas as coisas não terminaram muito bem. Contar mais pode estragar o filme. Ainda mais por ter apenas 15 minutos e deixar um gostinho de quero mais.
DIA BRANCO
Embora no final eu não tenha captado o que o filme quis dizer, não deixa de ser uma experiência gratificante ver DIA BRANCO (2014), de Thiago Ricarti, mais um bom exemplar do cinema produzido em Minas Gerais. O interessante deste filme é que só aos poucos as informações são nos dadas, como quantas pessoas estão em cena, por exemplo. O fato de haver a morte de um dos familiares dos garotos não deixa de ser uma informação de destaque, mas que acaba não sendo tão importante assim no clima, que parece meio descontraído, meio vazio, com os personagens brincando, tirando fotos com o celular ou olhando para o céu nublado. Sempre fico cismado com o último plano, por isso acho que DIA BRANCO se beneficiaria de uma revisão.
LIGHTS OUT
A duração do sueco LIGHTS OUT (2013), de David F. Sandberg, é de apenas três minutos, mas é o suficiente para assustar muita gente. Até mesmo quem já o viu diversas vezes. Tudo bem que ele segue as convenções e os clichês do gênero para conseguir o efeito desejado, mas não deixa de ser bastante eficiente. Há também a velha história do medo do escuro e da exploração do medo daquilo que está debaixo da cama, que tanto assalta praticamente todas as crianças. A história é muito simples e acompanha uma mulher que descobre que uma criatura assustadora aparece durante o apagar das luzes, quando ela está sozinha, em casa.
KICK THE COCK
Tinto Brass está velho. Reconheçamos que o bom velhinho tarado está praticamente aposentado. Seu último longa foi MONAMOUR (2006), e lá se vão quase 10 anos. Mas eis que temos dois curtas dele, e um deles é este KICK THE COCK (2008), que é dividido em duas partes. Ele segue brincando de usar pênis artificiais, que já havia aparecido em outros de seus longas mais recentes, mas o que conta mesmo é o modo bem sem-vergonha (no bom sentido) como ele lida com uma empregada doméstica (Angelita Franco, belíssima) que aparece com trajes sumários mostrando seus dotes e valorizando inclusive as partes mais íntimas e aproximando KICK THE COCK de um vídeo de sexo explícito. É um filme que elogia a beleza, o prazer e a sacanagem, mas acaba funciona mais como aperitivo para ver um hardcore de verdade, em seguida.
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