sábado, fevereiro 28, 2015

LÚCIA McCARTNEY, UMA GAROTA DE PROGRAMA



Sou totalmente contrário a analisar um filme sob a perspectiva de sua "fidelidade" à obra literária. Mas não resisto quando sei que um filme é baseado em um conto que posso muito bem ler em alguns minutos para em seguida apreciar a adaptação. Acredito que pode até "atrapalhar" um pouco a apreciação fílmica em si, já que torna o ato de ver o filme mais divertido.

Peguemos o caso de LÚCIA McCARTNEY, UMA GAROTA DE PROGRAMA (1971), de David Neves. Fiz questão de ler o conto "Lúcia McCartney", de Rubem Fonseca, antes de ver o filme. E me deliciei até metade do filme, pois não sabia que a obra cinematográfica também havia traduzido "O Caso de F.A.", outro conto do escritor. Resultado: enquanto gostei bastante da primeira parte do filme, tendo lido o conto e percebendo as escolhas do diretor na adaptação, a segunda parte saiu prejudicada, pois “O Caso de F.A.” é um conto maior e mais dinâmico.

Enquanto a adaptação de "Lúcia McCartney" ainda teve a incrível possibilidade de inserir canções dos Beatles na trilha sonora (uma delícia), dando um respiro adorável à história de uma jovem prostituta que se apaixona por um cliente e se sente incompreendida, a parte dedicada a "O Caso de F.A.", com outros atores e personagens, acabou por se mostrar bastante atabalhoada e muitas vezes confusa. Creio que se eu tivesse lido o conto antes teria até gostado. E é aí que eu vejo a fragilidade da obra de Neves, embora também veja suas qualidades.

Adriana Prieto, como a Lúcia McCartney do título, está adorável no papel. Infelizmente foi uma atriz que se foi cedo demais (morreu com apenas 24 anos), mas deixou uma filmografia bem legal, tendo trabalhado, inclusive, com o Khouri (em O PALÁCIO DOS ANJOS). Como o conto tem alguns aspectos modernosos, não deixa de ser interessante o que Neves preparou para diferenciar aquilo que não acontece (ou só acontece na cabeça de Lúcia) daquilo que acontece de fato.

Quanto à outra história, Paulo Villaça está muito bem como o advogado cafajeste e mulherengo que procura ajudar um amigo cliente que se apaixona por uma jovem prostituta, que estaria sendo refém de uma cafetina francesa (Odete Lara) em um bordel. Villaça já era um tipo famoso desde O BANDIDO DA LUZ VERMELHA e o personagem se adequou muito bem a ele. Pena que a história tenha ficado um tanto confusa na montagem final. Sem falar que a cena de ação é tão convincente quanto a de um filme dos Trapalhões.

No quesito erotismo, no início dos anos 1970, a nudez gráfica ainda era um pouco tímida. Só do final da década para o início dos anos 1980 é que se intensificaria enormemente, principalmente nas produções da Boca do Lixo. Mesmo assim, LÚCIA McCARTNEY, UMA GAROTA DE PROGRAMA não deixa de também ser um objeto de apelo erótico.

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