sexta-feira, fevereiro 13, 2015
CINQUENTA TONS DE CINZA (Fifty Shades of Grey)
O fenômeno Cinquenta Tons de Cinza, da escritora inglesa E.L. James, por mais que seja mal visto dentro do círculo literário mais exigente, é algo que tem o seu valor, principalmente quando se trata de chamar a atenção de novos leitores, gente que nunca leu nenhum romance na vida, para sentir o prazer que uma ficção envolvente é capaz. Citar o livro é uma maneira de contextualizar e relativizar a questão do resultado da adaptação.
Hoje em dia, com certos best-sellers que são avidamente lidos e transformados em filmes ou séries, há em geral uma pressão por parte desses leitores para que a adaptação não fuja muito do texto literário. Daí uma possível explicação para o fato de uma diretora como Sam Taylor-Johnson, que havia dirigido o belo e sensível O GAROTO DE LIVERPOOL (2009), ter se deixado levar pelo mau gosto e não ter conseguido se livrar dos diálogos constrangedores e das situações pouco inventivas da história de amor entre a jovem e bela estudante de Literatura Inglesa Anastasia Steele (Dakota Johnson) e o bilionário magnata Christian Grey (Jamie Dornan).
Ela, de nome de princesa e feições delicadas, é uma moça que ainda não se entregou sexualmente a ninguém. Quando fala isso a Christian em certo momento do filme, ela diz que estava esperando. Esperando pela pessoa certa, fica claramente entendido. E essa pessoa seria este homem elegante e cheio de charme que a conquistou em poucos minutos durante uma entrevista que nem era ela que deveria fazer, mas sua colega de quarto.
Um dos méritos de CINQUENTA TONS DE CINZA (2015) é trazer novamente o erotismo para o cinema mainstream, depois de um tempo em que ele se tornou vulgar depois de tantos softcores pós INSTINTO SELVAGEM. Antes disso, havia aqueles filmes dirigidos por Zalman King, que misturavam uma direção de arte pretensamente classuda com cenas de sexo relativamente quentes. Mas nada disso tinha um apelo tão grande ao público feminino, que talvez só tenha encontrado um exemplar à altura na época de 9 E ½ SEMANAS DE AMOR, de Adrian Lyne, na segunda metade dos anos 1980.
Portanto, a ótica dos filmes eróticos quase sempre foi essencialmente masculina. O livro Cinquenta Tons de Cinza nasceu de uma brincadeira que a escritora fez em cima de Crepúsculo, outra obra adorada pelas meninas. A semelhança com a história de amor entre uma humana e um vampiro, mesmo para quem não leu o livro de E.L. James, fica bastante evidente ao longo da história. Principalmente nos horríveis diálogos em que Christian diz que ela deveria se afastar dele, ou que ele não faz amor, ele fode.
Visto assim, o personagem, em vez de ser aquele homem perfeito que tanta mulher vê, acaba por se mostrar bastante patético muitas vezes, diante de uma garota simples que só quer ser amada como uma pessoa normal. Mas o bom é que entre um e outro diálogo ruim há algumas bonitas cenas sensuais envolvendo bondage.
Dakota Johnson se mostra especialmente convincente ao parecer estar sentindo mesmo prazer durante as cenas de sexo e seu truque de morder o lábio não deixa de ser irresistível. Vale lembrar que ela é filha de Melanie Griffith e neta de Tippi Hedren. Logo, está em seu DNA a sensualidade e a beleza.
Pelo termômetro sentido ao final da sessão e pelos comentários esparsos, CINQUENTA TONS DE CINZA parece ter agradado aos fãs do livro. Isso não deixa de ser positivo. Além do mais, o filme pode abrir as portas tanto para que os espectadores conheçam melhores obras eróticas, como também para o próprio mercado se aquecer e sair um pouco do universo da fantasia como opção de blockbuster.
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