terça-feira, janeiro 13, 2015
FOME DE VIVER (The Hunger)
Quando Tony Scott faleceu em 2012 eu estava cogitando ver FOME DE VIVER (1983) para homenageá-lo. Em vez disso, até por motivos relativos à leitura de um livro sobre Quentin Tarantino, optei por rever o igualmente ótimo AMOR À QUEIMA ROUPA (1993), lançado dez anos depois. A semelhança entre os dois filmes, além do esteticismo de Scott, seu gosto por belos cenários, bela fotografia, que muitas vezes foi confundida com propaganda de perfume (até por ele ter vindo da publicidade), há também entre os dois filmes muito sangue. Litros e litros de sangue.
Se em AMOR À QUEIMA ROUPA todo esse sangue tem a desculpa de ser culpa de Tarantino, aqui o sangue está a favor da história de um dos filmes de vampiros mais privilegiados do mundo: tem em seu elenco duas grandes estrelas internacionais, Catherine Deneuve e David Bowie. Completa o trio Susan Sarandon, já acostumada a tirar a roupa em filmes como MENINA BONITA e ATLANTIC CITY, ambos de Louis Malle.
Mas ao contrário do que a minha memória me enganava, não se trata de um triângulo amoroso, mas de uma troca de casais. Aliás, a minha memória do filme é tão turva que eu acredito não ter visto mesmo completo, quando foi exibido na televisão. Só o que conseguia lembrar de maneira forte mesmo era a abertura, ao som de Bauhaus tocando "Bela Lugosi is dead". Isso não dá para esquecer mesmo.
As cenas das duas mulheres na cama, por exemplo, ficaram um pouco borradas em minha mente. E do final, eu não lembro nada mesmo. Logo, acredito ter sido mesmo a primeira vez que vi de fato o filme. E que privilégio poder ver no cinema, em glorioso scope, e numa cópia linda restaurada e em DCP.
FOME DE VIVER foge um pouco dos estereótipos dos filmes de vampiros, embora possa ser facilmente classificado como horror. Na trama, o casal de vampiros vivido por David Bowie e Catherine Deneuve mantém uma vida tranquila: leva para casa algumas vítimas para sugar-lhes o sangue e assim garantir a eterna juventude. Acontece que ele, o personagem de Bowie, começa a perceber que está envelhecendo. E de maneira muito rápida. Tão rápida que o apavora e o faz ir em busca de uma especialista em estudos sobre sono e sua relação com o retardamento do processo de envelhecimento. No caso, a médica vivida por Susan Sarandon.
O aspecto mais terrível, no bom sentido, do filme não é nem as cenas envolvendo os mortos-vivos em estado de putrefação que habitam a mansão dos vampiros, mas a própria ideia de não morrer, de manter a sua mente ativa enquanto o corpo está em decomposição. Isso, só de pensar, chega a dar calafrios.
Mas o filme, mesmo tendo sequências perturbadoras, como a da morte de uma garotinha, tem até um momento de humor, involuntário ou não. Trata-se da cena em que as duas mulheres estão pela primeira vez tomando xerez e derrama um pouco na camiseta da personagem de Sarandon. Aquela camiseta precisava ser tirada. O que se vê a seguir tem uma carga erótica bem interessante.
E por falar em classe, impressionante como Catherine Deneuve, quase 20 anos depois de ter rodado filmes como REPULSA AO SEXO, de Roman Polanski, e A BELA DA TARDE, de Luis Buñuel, aparece ainda mais linda em plenos anos 80. Mas é que ela tinha apenas 40 anos. Menos ainda se contarmos o tempo das filmagens. Portanto, pode-se dizer que ela estava no auge da beleza, auxiliada ainda mais pelo gosto de Scott em fotografar da maneira mais bela possível.
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