sábado, novembro 08, 2014
MISS VIOLENCE
Eis o tipo de filme que é muito interessante na forma, mas que parece, de alguma maneira, problemático no conteúdo. MISS VIOLENCE (2013) causou furor durante sua exibição no Festival de Veneza do ano passado e muitos o viram como um autêntico representante do novo cinema grego. A julgar pela crise difícil que passou o país nos últimos anos, dá até para imaginar que o filme possa ser alguma metáfora da situação da Grécia, assim como A SERBIAN FILM foi um representante rebelde da situação sociopolítica da Sérvia.
Isso, levando em consideração que ambos os filmes apelam para o choque, muito embora MISS VIOLENCE pareça brincadeira de criança perto da violência gráfica do filme sérvio proibido no Brasil. Tanto é que MISS VIOLENCE não teve problemas nenhum com censura no país e desconheço que tenha tido em outro país, embora seja provável que tenha.
Um filme que considero "irmão" de MISS VIOLENCE é o primeiro longa-metragem de Michael Haneke, outro cineasta que gosta de provocações, mas que já teve tempo suficiente para mostrar o seu talento. Trata-se de O SÉTIMO CONTINENTE, que mostra uma família aparentemente comum que resolve se matar. É um filme muito mais perturbador e forte, enquanto MISS VIOLENCE até poderia ser vendido como um exploitation, se tivesse mais cenas de sexo, mas o diretor Alexandros Avanos queria um filme que fosse levado a sério. E pode-se dizer que conseguiu.
A primeira cena do filme é promissora. Mostra a família se preparando para o aniversário de uma das mais jovens e depois de ouvirmos a valsa "Dance me to end of love", do Leonard Cohen, e os parabéns, presenciamos o sorriso enigmático da adolescente, que pula da janela e morre instantaneamente. A partir daí, vamos descobrindo aos poucos os podres da família, o que leva, consequentemente, ao motivo que fez com que a garota cometesse suicídio.
Mas MISS VIOLENCE consegue ser ainda mais sombrio em seu desenvolvimento, sem precisar ser muito gráfico e apostando mais na tensão gerada pelas ações do patriarca da família, o grande responsável pela demolição daquela estrutura familiar.
As cenas em que ele leva a neta para se prostituir ou que ele leva a filha para transar com um amigo são bastante incômodas. E talvez por isso que a opção por um exploitation fosse um tiro no pé. MISS VIOLENCE nasceu mesmo para incomodar. E se não faz isso de maneira tão intensa quanto o citado O SÉTIMO CONTINENTE (há uma cena em que a família passa o carro por baixo de um lava-jato rápido, como no filme de Haneke) é porque Avanos não queria algo tão depressivo e de cortar os pulsos. Apenas incomodar um pouco a audiência. E isso é perfeitamente saudável.
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