Assim que CAUSA & EFEITO (2014) começa a impressão que temos é de que não vamos aguentar os mais de 90 minutos de filme ruim. Isso porque o prólogo chega a ser constrangedor. Como se fosse uma aula de como não filmar. Ou de como fazer humor (involuntário), já que a câmera lenta, a imagem do homem com a bebida e o cigarro, seguida da imagem dos pais e da criança brincando na rua com uma bola, tudo isso é bem mal conduzido. Mesmo assim, é possível lembrar o prólogo de ANTICRISTO, de Lars Von Trier, tanto pelo acidente envolvendo o garoto quanto pelo uso da câmera lenta.
Porém (ainda bem que existe um porém), uma vez que sabemos das fragilidades da dramaturgia, podemos relevar esse aspecto e tentar ver um filme fraco esperando que em algum momento ele se torne minimamente apreciável. Outra coisa que é preciso relevar é o discurso espírita que tem a clara intenção de usar o filme como um meio de propagação da doutrina kardecista. Uma vez que aceitamos esses dois aspectos é possível até gostar do filme, que melhora quando passa a abordar o relacionamento entre Paulo (Matheus Prestes) e Madalena (Naruna Costa).
E também melhora (ou pelo menos fica mais simpático) quando é mostrada a relação amigável entre três senhores que vivem em uma cidadezinha. Um deles é espírita, o outro é pastor e o terceiro é padre. O filme brinca com as rivalidades e com as características mais comuns dos três, mas sempre com muito carinho e no caminho do ecumenismo, ou seja, aceitando-se, sem preconceitos a religião do outro. E até mesmo complementando um ao outro nas adversidades.
Mas o principal objetivo do filme de André Marouço (um dos diretores de O FILME DOS ESPÍRITOS, 2011) é mesmo destacar a questão que já está explicitada em seu título, causa e efeito: aquilo que você planta, você colhe. Trata-se de uma regra que, no espiritismo, e também em várias religiões orientais que têm a reencarnação como uma das pedras fundamentais, é muito mais enfatizada, já que a agonia de uma pessoa pode não acabar com sua morte. Ela pode permanecer com ela no período pós-morte e se estender também na encarnação seguinte, caso essa pessoa precise passar por ajustes espirituais.
Nesse sentido, o filme ajuda a esclarecer, para os leigos, algo que já é bastante conhecido pelos espíritas, como a resposta do porquê algumas pessoas nascerem com má formação. O filme atribui isso ao fato de que se trata do espírito de uma pessoa que cometeu suicídio na encarnação passada. Não sei se isso pode ser generalizado, mas o filme acaba passando essa mensagem.
CAUSA & EFEITO, mesmo com todo o exagero em pintar o bem e o mal de maneira tão contrastante – detalhe para a cena em que dois homens são atormentados por seus próprios "anjos" e "demônios" para que ajam de determinada maneira –, poderia ter tido um resultado melhor se contasse com um bom diretor. Não à toa que o único filme espírita que consegue ser realmente bom é CHICO XAVIER, dirigido pelo experiente Daniel Filho. Do jeito que ficou, CAUSA & EFEITO lembra muito algumas telenovelas mal escritas, embora cumpra o seu papel em divulgar a doutrina kardecista e ainda entreter o espectador menos exigente.
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