terça-feira, junho 10, 2014

COM VANDALISMO























Estamos fazendo aniversário de um ano daquele período confuso e excitante (e para muitos, revoltante) que foi aquele junho de 2013, quando gente do país inteiro (ou quase) resolveu ir às ruas para reclamar. Tudo começou em São Paulo, ao que parece, mas Fortaleza foi uma das cidades que mais recebeu foco da mídia. Uma mídia, aliás, que estava com o rabo preso com os governantes e com a FIFA e iniciava cada telejornal delatando a ação terrível dos "vândalos", que se tornou a palavra mais usada na época.

Nada mais inteligente por parte dos manifestantes, sejam eles pacifistas ou vândalos (o documentário faz essa divisão), do que atrair a atenção da imprensa internacional (e de nossos governantes) para nossas insatisfações, para aquilo que estava preso goela abaixo, aproveitando um evento de repercussão mundial.

E, em Fortaleza, em meio a quatro grandes manifestações que ocorreram na cidade, duas por ocasião de dois jogos ocorridos na Copa das Confederações, sendo que a primeira foi durante o jogo Brasil x México, muita gente, em sua maioria, jovens, foi às ruas para botar a boca no trombone, mesmo que para isso corresse o risco de levar balas de borracha, respirar gás lacrimogêneo ou mesmo ser preso.

O coletivo Nigéria Filmes aproveitou a deixa e se infiltrou na multidão, tanto para registrar coisas que a mídia oficial evitava mostrar ou mostrava com alguém falando alguma bobagem em voice over, quanto para entrevistar o povo. O resultado é este documentário que foi lançado direto na internet, COM VANDALISMO (2013). Nem vou colocar aqui o nome dos responsáveis pelo filme, pois são muitos.

Obviamente o documentário não chega a ser imparcial. Até porque não existe isso de documentário imparcial ou mídia imparcial, mas há problematizações, espaço para opiniões de gente que condena os atos de destruição, e há também muito espaço para aquele grupo que resistiu até o dia mais violento de confronto com a polícia, que aprendeu a lidar com o gás, a ficar mais forte e corajoso. E algumas dessas pessoas eu tenho orgulho de dizer que são minhas amigas.

Estamos a dois dias do início da Copa do Mundo e, embora haja uma quantidade grande de pessoas preparada para assistir aos jogos e condenando aqueles que querem atrapalhar a festa, há uma movimentação forte para que os eventos de junho de 2013 se repitam também neste ano com impactos maiores, já que é uma Copa mais longa e de maior importância. Assim, confesso que estou entusiasmado para saber o que vai acontecer. E estou pouco me lixando para o que a imprensa ou os turistas estrangeiros vão achar de nosso país.

O Brasil, que tem fama de passivo, apesar de ter lutado durante a ditadura, ter ido às ruas a favor das "diretas já" e de ter tirado um presidente canalha do poder, pode mostrar ao mundo aquilo que os governos e a própria grande mídia brasileira comprada tratam de esconder. Quanto ao filme, além de oferecer um registro importante desse momento tão marcante, ainda tem o cuidado de trabalhar a fotografia, usando o preto e branco com as cores no mesmo quadro e formando um bonito painel.

Algumas imagens ficam fortemente gravadas na memória, como a do manifestante dançando de alegria na rua enquanto a polícia solta bombas ou a do garotinho atravessando a rua em um cavalo. Bom trabalho o dos rapazes e moças do coletivo Nigéria Filmes, que eu espero que ofereçam mais mistos de jornalismo e arte como esse. E boa sorte para nós, brasileiros, nesses próximos dias que virão.

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