sábado, abril 19, 2014

ERA UMA VEZ EM TÓQUIO (Tôkyô Monogatari)























Uma chance como essa, de poder ver um dos mais belos filmes do mundo, ERA UMA VEZ EM TÓQUIO (1953), no cinema, em versão restaurada, não é todo dia que é oferecida. A obra-prima de Yasujiro Ozu ganhou mais holofotes quando obteve posição de destaque com a eleição dos melhores filmes de todos os tempos da revista Sight & Sound: figurou em primeiro lugar no top dos cineastas e em terceiro no ranking dos críticos (atrás apenas de UM CORPO QUE CAI, de Alfred Hitchcock, e de CIDADÃO KANE, de Orson Welles).

Segundo o historiador de cinema Mark Cousins, em seu livro História do Cinema, Ozu é o melhor exemplo de cineasta clássico, isto é, diferente dos cineastas americanos da "velha Hollywood", em seus filmes a vida é apresentada como um "equilíbrio entre pais e filhos, entre esperança e desespero, e vida pública e privada" (p. 126). Tanto o enredo quanto o sentimento é aparado em seu cinema. E, no entanto, saímos da sessão de ERA UMA VEZ EM TÓQUIO (1953) com lágrimas nos olhos. Como acontece também com PAI E FILHA (1949), outra de suas obras-primas e a primeira a apresentar a adorável Setsuko Hara como a Noriko de três filmes – o outro é TAMBÉM FOMOS FELIZES (1951).

Setsuko/Noriko é o exemplo perfeito desse equilíbrio, dessa contenção das emoções que é característico do classicismo. Porém, como ninguém é perfeito, no final de seus filmes, essas emoções contidas são postas pra fora, lavando a alma do espectador. Seu papel em ERA UMA VEZ EM TÓQUIO é menor, já que há um número maior de personagens e a trama é centrada no casal de velhinhos (Chishû Ryû, o mais presente ator dos filmes de Ozu, e Chieko Higashiyama) que vem a Tóquio para visitar seus filhos já crescidos e casados.

O problema é que os filhos, um tanto egoístas, são ocupados demais para dar atenção aos pais e o resultado é que os bondosos idosos acabam sendo jogados de um lado para o outro. A única que dá a atenção devida nem mesmo é filha deles, mas é viúva de um de seus filhos, a gentil e doce Noriko. É necessário que acompanhemos toda a trajetória dos idosos para que o amor transbordante da cena de Noriko e da matriarca seja sentida em toda a sua glória. Sem falar nas tocantes cenas que se sucedem.

Vale destacar que, recentemente, para comemorar os 60 anos desta obra-prima, Yoji Yamada fez um remake que aqui no Brasil ganhou o título de UMA FAMÍLIA EM TÓQUIO, que se não tem a perfeição técnica e a autenticidade do genial Ozu é tão bom quanto no quesito emoção. Sem falar que Yamada foi muito feliz em efetuar pequenas mudanças no enredo e na criação de um personagem que não existe no original.

ERA UMA VEZ EM TÓQUIO foi inspirado em A CRUZ DOS ANOS, melodrama comovente de Leo McCarey sobre a terceira idade e o abandono dos pais pelos filhos. Ozu, porém, não viu o filme americano, mas seu corroteirista, Kogo Noda, viu. As histórias são parecidas, mas Ozu conseguiu elevar o que já era muito bom, sem ter que fazer muito esforço, já que suas obras são bem parecidas entre si. Pelo menos as que eu tive o prazer de ver até agora.

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