quarta-feira, fevereiro 19, 2014
SEIS CURTAS BRASILEIROS
Um conselho de um blogueiro veterano: não deixe acumular muitos filmes se você não tem uma memória muito boa. Especialmente se forem curtas-metragens. Eu poderia ter feito algumas anotações logo depois que assisti a cada um destes seis curtas-metragens, mas o que foi que eu fiz? Apenas anotei o nome do filme e do diretor. Só pra ficar lembrando a mim mesmo que eu devo escrever algumas linhas a respeito. E chegou a hora de falar um pouco sobre esses filmes, buscando da memória ou em alguns casos de trechos dos próprios filmes. Vamos lá.
TUDO BEM
Taí o caso de curta que apresenta personagens tão legais que dá vontade de ficar com eles mais um pouco. Quem sabe numa série de televisão ou algo do tipo. Destaque para Camila, a personagem de Ailen Scandurra, que terminou o namoro há pouco tempo e anda desencantada com baladas e flertes. TUDO BEM (2012, foto), de Christopher Faust, tem uma simplicidade agradável no trato com os problemas da personagem e ainda assim consegue ser muito sensível ao nos apresentar seus sentimentos, sua vontade de estar só, embora às vezes o destino possa pregar peças. A cena de Camila cantando para a câmera uma canção de Mallu Magalhães ajuda a situá-la na atual geração.
BRASÍLIA SEGUNDO FELDMAN
Documentário em curta-metragem visto na Mostra de Direitos Humanos do ano passado, dentro de uma mini-mostra em homenagem a Vladimir de Carvalho, BRASÍLIA SEGUNDO FELDMAN (1979) traz imagens de arquivo impressionantes sobre a construção de Brasília, mais exatamente sobre o último ano, quando aconteceu um massacre de operários, gente que já comia o pão que o diabo amassou para ajudar a construir a capital do país. Até hoje essa chacina é um assunto mal resolvido e o curta de Vladimir continua tendo sua força tanto como documento histórico quanto como arte.
LIÇÃO DE ESQUI
Leonardo Mouramateus é um dos jovens mais talentosos do novo cinema produzido no Ceará e tem chamado a atenção em vários festivais. No Cine Ceará do ano passado, tive a oportunidade de trocar algumas poucas palavras com ele e de ver MAURO EM CAIENA (2012), que ganhou um prêmio especial de temática nordestina. LIÇÃO DE ESQUI (2013), em parceria com Samuel Brasileiro, seu trabalho seguinte, foi exibido no Festival de Brasília. O interessante é que você percebe elementos autorais já a partir do segundo trabalho visto do diretor. O filme lida com um acidente ocorrido com um amigo em comum de dois rapazes, que aparecem filmados de maneira pouco comum. Interessante a brincadeira de brigar e de interpretar dos dois amigos, que pode ser algo relacionado à natureza da interpretação, da criação cinematográfica. A cena na boate parece uma espécie de continuação do final de MAURO EM CAIENA, como se se passasse no mesmo universo.
POUCO MAIS DE UM MÊS
Entrei em contato pela primeira vez com o trabalho de André Novais Oliveira com FANTASMAS (2009), o tipo de filme que de tão simples de fazer e tão inteligentemente construído que a gente fica com raiva de não ter tido a ideia. POUCO MAIS DE UM MÊS (2013) é menos impactante, mas bem mais fascinante e complexo. Começa com imagens invertidas da “câmera escura” do apartamento de Élida, moça que está começando um relacionamento com André, interpretado pelo próprio diretor. O filme explora também a relação dos dois personagens, do fato de eles terem dúvidas quanto à estabilidade e às possibilidades de um relacionamento sério. Há todo um cuidado com os silêncios, os sons, a respiração. E é muito bonita a cena da conversa dos dois na parada de ônibus. Ao que parece, Novais Oliveira é mesmo um dos melhores talentos da nova geração.
A NAVALHA DO AVÔ
O que inicialmente chama a atenção em A NAVALHA DO AVÔ (2013), de Pedro Jorge, é a presença do crítico de cinema Jean-Claude Bernadet no papel do senhor de idade que não fala e que está um tanto doente. Há um jovem que se esquiva de cuidar do avô e é principalmente a relação dos dois que o filme mais apresenta. O filme não tem exatamente uma linha narrativa óbvia, é mais um cinema de cotidiano, de pequenos gestos, mas que tem sua força em diversos momentos, como uma cena na feira, outra em uma barbearia e diversas dentro da própria casa. Bernadet fez o seu primeiro personagem de ficção e se saiu muito bem.
A QUE DEVE A HONRA DA ILUSTRE VISITA ESTE SIMPLES MARQUÊS?
O filme de Rafael Urban e Terence Keller é um dos curtas mais interessantes que eu vi recentemente. O filme se passa todo dentro da mansão de Max Conrad Jr., um rico octogenário que recebe os diretores para mostrar quadros de arte, antigas revistas e jornais, entre outros elementos que fazem parte de sua singular coleção. Uma das coisas que chama atenção em A QUE DEVE A HONRA DA ILUSTRE VISITA ESTE SIMPLES MARQUÊS? (2013) é a ordenação do espaço, tão perfeito como em um museu de arte. Até mesmo o aposento que guarda antigas revistas e jornais é muito bem ordenado, apesar de parecer menos vistoso. E há a própria figura de Conrad Jr., que se mostra um tanto solitário, por ser a única pessoa presente no filme. Não que ele pareça se importar, já que mostra sua coleção com muito entusiasmo.
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