quinta-feira, janeiro 16, 2014
UM JOGO BRUTAL (Un Jeu Brutal)
Meu contato inicial com a obra de Jean-Claude Brisseau foi com três filmes que lidam com o erotismo de uma maneira extremamente bela: COISAS SECRETAS (2002), OS ANJOS EXTERMINADORES (2006) e À AVENTURA (2008). Filmes deliciosos que tanto agradam os olhos e os instintos mais primitivos como também são convites a um universo espiritual. Retomar a apreciação de seus filmes por um de seus primeiros trabalhos, UM JOGO BRUTAL (1983), é um baque e tanto. Parece ser obra de outro diretor, parecido até com Michael Haneke e seu sadismo.
Em UM JOGO BRUTAL, temos dois protagonistas: um pai que é um serial killer e uma adolescente deficiente física. O pai se vê obrigado a educar a garota, que se mostra extremamente rebelde e acostumada a ser dependente. O pai quer impor disciplina à vida da moça, à força e de maneira brutal. Caso ela desacate sua autoridade, ficará trancada no quarto sem direito nem mesmo a comer.
Aos poucos, e com a entrada em cena de uma professora, a garota vai começando a se acostumar com a disciplina. Mas o que muda mesmo sua visão de mundo é quando ela se apaixona pelo irmão de sua professora. A garota conhece, então, o que é o amor e depois o que é a dor de perder alguém por quem esteve apaixonada. Isso faz com que ela tenha uma percepção da vida mais otimista.
Enquanto isso, o pai continua perseguindo um grupo de adolescentes e matando-os um a um. O filme, curiosamente, não mostra as cenas de violência de forma gráfica. Algumas vezes, as mortes são tão discretas que só mesmo prestando bastante atenção. O peso do enredo acaba sendo em torno da garota e de seu relacionamento com o pai e com aqueles poucos que a cercam.
Ainda assim, há algo que lembra bastante o Brisseau de À AVENTURA, especialmente perto do final. Não deixa de ser também uma espécie de conto moral, mas narrado de uma maneira toda própria. Brisseau examina o lado mais perverso do homem (do pai e da filha) quanto sua redenção. Para o diretor, como a vida não acaba no plano material, o misterioso plano espiritual é também explorado, ainda que de maneira mais discreta do que em À AVENTURA.
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