domingo, dezembro 01, 2013

TAMBÉM FOMOS FELIZES (Bakushû)























Muito bom quando a gente, tendo visto apenas três filmes da obra de um cineasta, já se sente um pouco íntimo de seu trabalho, de sua poética. Foi o caso de cineastas como Woody Allen, François Truffaut, Walter Hugo Khouri, Alfred Hitchcock, Eric Rohmer, entre outros, e está sendo o caso de Yasujiro Ozu.

Ver TAMBÉM FOMOS FELIZES (1951) logo após ter visto PAI E FILHA (1949), então, dada a similaridade da premissa e a presença da mesma protagonista (Setsuko Hara) interpretando uma variação da mesma personagem, também chamada Noriko, torna essa intimidade mais presente. Os dois filmes formam, junto com ERA UMA VEZ EM TÓQUIO (1953), a chamada trilogia de Noriko.

TAMBÉM FOMOS FELIZES, se não consegue ser tão emocionante quanto PAI E FILHA, é visto com semelhante prazer. Obra de diretor em pleno domínio da técnica e com uma sensibilidade no trato com assuntos familiares única, TAMBÉM FOMOS FELIZES também lida com a preocupação da família com o destino matrimonial de Noriko. Ela já tem 28 anos e ainda está solteira. Interessante que aqui há um grupo de amigas de Noriko que são formadas por duas casadas e uma solteira. Elas ficam discutindo saudavelmente sobre quem é mais feliz.

Mas nada como ficar encantado com o sorriso de Setsuko Hara. Diferente de PAI E FILHA, em que, durante a metade do filme, ela aparece triste e angustiada diante da possibilidade de se separar do pai, a Noriko de TAMBÉM FOMOS FELIZES aparece sorridente praticamente em todo o filme. Inclusive, quando, mesmo sem estar tão entusiasmada, escuta e até aceita as ofertas que aparecem de pretendentes, esses que quase não contracenam com ela.

TAMBÉM FOMOS FELIZES também destaca a família Mamiya. Diante das discussões sobre casamento que acabam lembrando os romances de Jane Austen, há pouco espaço para as crianças, mas elas funcionam como elemento de ternura por parte de Noriko, sempre simpática, mas que não se deixa enganar com a malandragem dos pirralhos. Interessante notar o modo como as crianças de Ozu são, de certa forma, insolentes e agressivas com os mais velhos. Isso aparece com força em EU NASCI, MAS (1932), até por ser um filme focado nos pequenos, mas aqui também é possível ver um pouco disso.

Da mesma forma, o filme também chega a desconstruir a imagem que normalmente se tem de a mulher japonesa ser extremamente submissa ao homem, embora isso seja questionado durante as conversas das amigas de Noriko. Mas a sensação de liberdade que Noriko tem em estar em uma estação de trem, conversar com um conhecido e perguntar, com muita simpatia, sobre o capítulo do livro que o sujeito está lendo, tudo isso, junto com as tomadas da câmera acoplada na lateral do trem e das belas paisagens, é elemento importante para formação desse estado de alegria de viver da personagem.

Não sabemos o destino dela enquanto casada. Se continuará ou não sendo feliz. Imaginamos que sim, já que a instituição familiar é tratada com tanto carinho por Ozu. Além do mais, Noriko passa uma segurança e um otimismo com relação ao futuro que não se vêm em PAI E FILHA. É, certamente, um filme bem mais feliz do que o anterior. Não à toa o título brasileiro tenha usado tal adjetivo para nomeá-lo.

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