sábado, dezembro 21, 2013
QUESTÃO DE TEMPO (About Time)
Já faz uma década que Richard Curtis aqueceu os corações de muitos espectadores com o filme-coral SIMPLESMENTE AMOR (2003). Mas não esqueçamos que ele foi roteirista de outras duas comédias românticas que marcaram época: QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL (1994) e UM LUGAR CHAMADO NOTTING HILL (1999). Quer dizer, mais ou menos nesta época, Curtis ajudou a recriar um tipo de romance com humor que já havia tido o seu ápice em Hollywood na década de 1930, mas que ganhou sotaque e elegância inglesas ao ser transportada para a Inglaterra da virada do século.
Em QUESTÃO DE TEMPO, o próprio Curtis pôde brincar com os clichês dessas comédias, como na cena em que o protagonista Tim (Domhnall Gleeson) pede Mary (Rachel McAdams) em casamento e ela diz que não gosta daquelas declarações de amor ditas para multidões, tão comum em filmes do gênero e particularmente lembrada em SIMPLESMENTE AMOR. De SIMPLESMENTE AMOR também lembramos da sequência em que um apaixonado jovem se declara para a personagem de Keira Knightley utilizando frases escritas numa cartolina. Sequência parecida é usada para outros fins em QUESTÃO DE TEMPO, numa cena que acontece em um teatro.
Nota-se que o diretor resolveu frear um pouco o sentimentalismo neste novo filme, talvez por também abordar uma temática um tanto cerebral, que é a das viagens no tempo. No filme, essas viagens não são suficientemente verossímeis, mas, uma vez que nos acostumamos e encaramos tudo como uma fábula, torna-se mais fácil aceitar e se divertir, embora comparações com EFEITO BORBOLETA, TE AMAREI PARA SEMPRE e o maravilhoso FEITIÇO DO TEMPO acabem diminuindo um pouco o filme.
Na trama, Tim é um rapaz que tem dificuldades em conseguir namoradas. É um pouco desajeitado e a cena da noite de fim de ano, com todo mundo beijando na boca de alguém e ele sozinho e constrangido com uma garota ao lado, serve de exemplo. Sua vida muda quando o pai o chama para uma conversa bem séria: conta a ele que sua família tem a capacidade de viajar no tempo. Só depois de fazer um teste que ele passa a acreditar. Se o pai aproveita o tempo que ganha com as viagens para ler o maior número de livros possível (adora Charles Dickens), Tim quer usar para arranjar uma namorada.
Se na vida não há ensaio, Tim consegue a chance de ensaiar até atingir o ponto desejado, como na primeira noite de amor com Mary. Rachel McAdams continua tendo aquele sorriso que encantou plateias desde, pelo menos, DIÁRIO DE UMA PAIXÃO, e não é diferente em QUESTÃO DE TEMPO. Porém, sua personagem não é suficientemente aprofundada, parece mais um símbolo. É diferente, por exemplo, de Julia Roberts em UM LUGAR CHAMADO NOTTING HILL, para citar um trabalho de Curtis.
Ainda assim, o filme tem uma beleza contagiante, tratando de temas tão profundos quanto a beleza da vida, a necessidade de vermos cada instante como único e especial, o amor entre pai e filho, o amor romântico como alimento para a alma. São tantos temas profundos que QUESTÃO DE TEMPO parece raso em diversos momentos. Ainda assim, como não se emocionar ao ouvir "Into My Arms", de Nick Cave, em uma das sequências mais importantes? QUESTÃO DE TEMPO pode até não ser o supra-sumo da comédia romântica inglesa, mas é um belo exemplar, que chega em uma época do ano tão cheia de corações carentes de amor.
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