sábado, outubro 12, 2013
GRAVIDADE (Gravity)
E eis que mais um filme de primeira grandeza chega ao nosso circuito para mexer com nossas listas de melhores de 2013. Que bom. E que alívio poder contar com o retorno de Alfonso Cuarón, que desde 2006, com FILHOS DA ESPERANÇA, que não lançava nenhum longa seu nos cinemas. Mas o longo parto de GRAVIDADE (2013) valeu a pena, pois o resultado é desses de deixar o espectador não apenas aflito e tenso durante toda a projeção, mas também maravilhado.
Pra começar, o filme não mostra nenhuma prévia dos personagens de Sandra Bullock, que interpreta a Dra. Ryan Stone, uma engenheira em sua primeira missão no espaço, e de George Clooney, como o experiente e bem-humorado astronauta Matt Kowalsky. O filme entra de cara com os dois no espaço, tentando consertar algo em um satélite. A sensação de solidão naquela vastidão já começa presente desde o início.
E a tendência é piorar, já que destroços de outro satélite passam pela tripulação e causam resultados catastróficos na missão e na vida daqueles poucos personagens. Os rodopios que eles dão no espaço, à deriva, são também de impressionar e foram momentos muito difíceis para Sandra Bullock e George Clooney durante as gravações, em que eles usaram cabos para simular a falta de gravidade no espaço.
Uma coisa que foi enfatizada em 2001 – UMA ODISSEIA NO ESPAÇO, de Stanley Kubrick, foi que no espaço o som não se propaga. E por isso é tão importante a trilha sonora do inglês Steven Price, que fez um trabalho excepcional. Tanto que quando seu nome surge nos créditos finais, fica-se pensando: quem é este homem? Como compositor de trilhas, ele tem pouquíssimos trabalhos, sendo o mais conhecido deles o horror de baixo orçamento ATAQUE AO PRÉDIO, de Joe Cornish.
Seu trabalho em GRAVIDADE funciona nos momentos de impacto dos objetos em outros objetos como um substituto do som, que no espaço não se propaga. Mas não apenas isso: acentua a aflição, a solidão, o medo, a angústia, todos esses sentimentos tão carregados que os personagens, principalmente Ryan Stone, passam, ao longo do filme. Trata-se de uma trilha também grandiloquente no sentido de mostrar o quão insignificantes somos diante do universo.
Há também um interesse em trazer à tona uma reflexão sobre o sentido da vida, de como ela pode ser uma dádiva, e não um estorvo. Inicialmente, pelo menos, é um tanto assim que a personagem de Bullock vê a vida, devido a uma perda na família. Essa visão amarga da engenheira é fundamental para que haja um conflito existencial nos momentos finais do filme.
Algumas sequências são dignas de nota, como o momento que ela adentra uma câmara e se posta como um feto, que pode ser tanto uma maneira de elogiar a obra-prima de Kubrick, como de mostrar o quanto a personagem se sentia ali, no espaço, apesar de sozinha, distante das dores da vida na Terra, por mais que aquelas circunstâncias no espaço também não fossem tão favoráveis. Outro momento tocante é o das lágrimas sem gravidade, que se aproximam de nós com os ótimos efeitos em 3D.
Outro aspecto belo está na questão da religiosidade, que é tratada sem dogmas, mas buscando a transcendência. Comovente o momento em que a protagonista confessa que nunca rezou pois nunca a ensinaram, numa situação em que sente a necessidade de entrar em contato com o divino. Aparecem imagens icônicas de Jesus e Buda, em diferentes estações, em alguns desses momentos. E, claro, há as palavras finais da personagem, que saem do fundo de seu coração, mas que também funcionam como alento para nossos corações tão aflitos depois de tão doloroso percurso.
P.S.: Que bom que o cinema UCI Ribeiro do Iguatemi finalmente substituiu aqueles horríveis e toscos óculos escuros por óculos de lentes mais claras, que oferecem mais conforto e não dão aquela incômoda dor de cabeça.
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