quinta-feira, outubro 24, 2013

DEIXE A LUZ ACESA (Keep the Lights On)























A falta de mais filmes sobre relacionamentos homoafetivos dentro do circuito comercial não deixa de ser um fato curioso. A grande maioria desses filmes fica restrito ao gueto dos festivais que abordam esses temas. Aliás, tive oportunidade de ir a uma edição do For Rainbow uma vez e fiquei admirado com a qualidade dos filmes. No caso, eram apenas curtas-metragens. No circuito mainstream tem sido raro ver ultimamente um filme de grande visibilidade sobre o tema. Talvez o último caso tenha sido mesmo o de O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN, de Ang Lee, cineasta que já havia feito um filme com essa temática em 1993, O BANQUETE DE CASAMENTO.

No final do ano passado, a conceituada revista francesa Cahiers du Cinéma selecionou entre seus dez melhores filmes do ano uma produção independente gay: DEIXE A LUZ ACESA (2012), de Ira Sachs. Trata-se de um filme de inspiração autobiográfica. O diretor passa para o seu filme um relacionamento de dez anos que teve com um rapaz viciado em drogas. O roteiro ficou a cargo de Sachs e do brasileiro Maurício Zacharias, o mesmo de MADAME SATÃ e O CÉU DE SUELY, ambos de Karim Aïnouz.

O resultado é irregular, mas Sachs dá a cara a tapa ao mostrar homossexuais preocupados com o vírus da AIDS, à procura de vários parceiros e com comportamento hedonista. Felizmente, essas sequências funcionam principalmente como uma espécie de prelúdio para a história de Erik (Thure Lindhardt), um documentarista alemão que conhece e se apaixona por Paul (Zachary Booth), um editor de livros. E é na aproximação da relação entre os dois, principalmente dentro de ambientes fechados, que o filme cresce emocionalmente e ganha características universais. Afinal, quem nunca amou mais do que a outra pessoa e acabou sofrendo por isso?

O filme também tem algo de diferente, ao trazer um tipo de dramaturgia mais seca, com pouca utilização de música, lembrando inclusive em alguns momentos o trabalho dos dinamarqueses do Dogma 95. Senti falta de uma maior participação do pequeno elenco feminino, especialmente da amiga de Erik que deseja desesperadamente ter um filho e pede para que ele seja o pai biológico. Mas provavelmente isso faria com que o filme perdesse um pouco o foco, que é justamente a história de amor de Erik e Paul.

Um detalhe interessante é que Erik, como documentarista, está trabalhando na vida e obra de um fotógrafo chamado Avery Willard, que ajudou a definir, através de seu trabalho, a iconografia gay de Nova York, mas que morreu praticamente desconhecido. Esse documentário que Erik trabalhava no filme foi feito simultaneamente ao longa de ficção de Sachs e se chama IN SEARCH OF AVERY WILLARD, em formato de curta-metragem. Assim, o que parece faltar de militância política gay em DEIXE A LUZ ACESA existe nas entrelinhas e nos bastidores.

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