sábado, setembro 28, 2013
UMA PRIMAVERA COM MINHA MÃE (Quelques Heures de Printemps)
Antes de mais nada, é bom destacar o quanto é bom quanto os exibidores locais que não têm o costume de colocar filmes alternativos em cartaz resolvem quebrar as regras e trazer produções que são normalmente deixadas para o circuito de arte. É o caso de UMA PRIMAVERA COM MINHA MÃE (2012), de Stéphane Brizé, que esta semana entrou em cartaz no Pátio Dom Luís.
O filme é mais um que engrossa a lista de títulos que promovem uma discussão sobre a eutanásia, que no mesmo ano teve um exemplar de peso, AMOR, de Michael Haneke. Se o filme de Haneke teve maior repercussão, isso se deve tanto à fama assegurada do cineasta, quanto, principalmente, à premiação em Cannes e às indicações ao Oscar. Assim, o trabalho de Brizé ficou um tanto apagado da mídia. No entanto, merece ser conhecido. Não apenas pelo tema interessante, polêmico e convidativo à reflexão, mas também pelo rigor formal que o cineasta imprime a seu trabalho.
Em UMA PRIMAVERA COM MINHA MÃE, temos a história de Alain Évrard (Vincent Lindon), um homem de meia idade que mora com a mãe e tem dificuldade em conseguir emprego. Mais adiante o filme nos mostra os motivos. A solidão do personagem em sua vida à deriva só não é maior do que a de sua mãe, Yvette (Hélène Vincent), que luta contra um câncer, recebendo regularmente sessões de radioterapia. Apesar disso, o relacionamento entre mãe e filho não é dos melhores. O vizinho idoso e amável é uma espécie de pacificador, quando conflitos maiores se manifestam.
O interessante do filme é o modo pouco afeito à melodramaticidade no trato com um tema tão espinhoso e tão fácil de chegar à pieguice. Os sentimentos estão lá, mas são quase sempre abafados pelos personagens. Como se a vida difícil que levam já fosse suficiente; não precisariam se lamentar aos quatro ventos. Principalmente Yvette, que se prepara para a morte com uma coragem impressionante.
A relação de Alain com sua mãe muda quando ele fica sabendo dos planos dela de "morrer dignamente" em uma clínica especializada nesse tipo de intervenção, localizada na Suíça. Uma das cenas mais impressionantes do filme é justamente quando mãe e filho são visitados por funcionários dessa empresa de eutanásia, que fazem uma série de perguntas à personagem, entre elas, se ela acredita na vida após a morte.
No elenco, a presença mais conhecida é de Emmanuelle Seigner, como um interesse romântico de Alain. As cenas entre os dois são boas, mas acabam sendo eclipsadas pelo que é mais importante, a relação entre mãe e filho e o destino final de Yvette, uma personagem que vai se tornando cada vez mais querida pelo espectador. E sua cena final já pode ser considerada uma das mais comoventes entre os filmes lançados neste ano.
Ao final, fica a impressão de que o diretor não defende de maneira tão ferrenha quanto Haneke a eutanásia, deixando para o espectador a decisão de entender e/ou aceitar o que é mostrado no filme. Não significa necessariamente uma postura melhor ou pior que a do cineasta austríaco, mas um ponto de vista diferente, com uma maior abertura.
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