sábado, agosto 10, 2013
VENDO OU ALUGO
A concorrência anda desleal por aqui, com a estreia na mesma semana de VENDO OU ALUGO (2013), de Betse de Paula, e de CINE HOLLIÚDY, de Halder Gomes. Enquanto as salas lotam para ver o filme falado em cearês mais simpático dos últimos anos, a comédia da Betse de Paula, vencedora do Cine PE, amarga sessões mirradas, praticamente vazias. Foi assim que testemunhei a sessão de VENDO OU ALUGO, que trata de questões sociais interessantes, embora não seja tão divertido como comédia, mesmo com o bom elenco, principalmente o feminino, formado por quatro gerações diferentes de mulheres: da bisavô à bisneta.
Além das quatro atrizes da família, interessante perceber que o time de roteiristas é formado por quatro mulheres e um homem, ou seja, não é apenas a direção de Betse que confere a VENDO OU ALUGO um filme feito por mulheres, mas também as próprias personagens da casa. Há alguns poucos homens que se destacam, como o personagem do traficante, vivido por Marcos Palmeira, e o gringo que quer comprar a casa, vivido por Pedro Monteiro. Daria para citar também André Mattos, no papel do pastor corrupto, mas o personagem é tão caricato, que não tem a menor graça. E até já virou tradição pegarem no pé de evangélico em filmes. Fizeram algo parecido no horrível GIOVANNI IMPROTTA, de José Wilker.
Na trama, Marieta Severo é Maria Alice, a líder do clã e a mais interessada em vender a casa, já que está atolada em dívidas e sua casa, rodeada por favelas com frequentes tiroteios e balas perdidas, está prestes a ser leiloada. Sua mãe (Nathália Timberg) vive gastando dinheiro em jogo, o que agrava ainda mais a situação. Maria Alice busca salvação mandando uma oferenda para Iemanjá. Enquanto isso, sua filha (Silvia Buarque) retorna do Acre, toda hippie e natureba, dizendo que ficar preocupada com dinheiro é bobagem. A neta (Bia Morgano), por sua vez, sente-se deprimida por estar sem namorado e sem emprego à vista.
É do ponto de vista delas que o filme se desenvolve, além de criar também situações engraçadas envolvendo os possíveis compradores da casa, sendo os principais o gringo e o pastor. Nem sempre as cenas são boas para dar gargalhadas. Talvez seja o caso de estar com o humor muito em alta ou se identificar com o drama das personagens para rir das situações.
O filme se diferencia das outras comédias mais populares por tratar de maneira mais inteligente dos problemas sociais, do modo como a maioria das pessoas prefere dizer "favela", mas há aquelas que preferem dizer que aquele lugar é uma comunidade. Aliás, a ideia que a personagem de Silvia Buarque traz, de dizer que o futuro é a favela, é o caos, é bem interessante.
Pena mesmo que Betse de Paula não tenha um timing tão bom para comédias mais abertamente escrachadas. Mesmo assim, tocar em questões como a invasão da polícia nos morros, a crise da classe média, a simpatia dos pobres em meio a guerras de gangues, sem deixar tudo em tom de deboche acaba contando pontos a favor do filme. Betse de Paula está com outro filme em festival este ano: o documentário REVELANDO SEBASTIÃO SALGADO, na mostra competitiva de Gramado.
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