domingo, agosto 04, 2013

UM ALGUÉM APAIXONADO (Like Someone in Love)























Segundo longa-metragem fora de seu país do cineasta iraniano Abbas Kiarostami, UM ALGUÉM APAIXONADO (2012), se não rendeu todo o estardalhaço de CÓPIA FIEL (2010), é, sem dúvida, um filme que merece muito a nossa atenção. Kiarostami continua seu gosto por longos planos e o início do filme, com um uso de câmera parada nos mostrando um restaurante em Tóquio pelo ponto de vista da protagonista Akiko (a bela Rin Takanashi), faz lembrar o cinema de Hou Hsiao-hsien, que trabalha bastante neste registro, privilegiando a mise-en-scène. Há também cortes para imagens aproximadas da personagem, que é mostrada sempre separada dos demais no contracampo, talvez para enfatizar seu deslocamento.

Akiko é uma garota de programa que lida com o ciúme do namorado Takashi (Ryo Kase) e tem um encontro marcado com um homem desconhecido. Coisas do ofício. Enquanto isso, no restaurante, conhecemos um pouco a extrovertida amiga e o chefe de Akiko. Aos poucos vamos entendendo o que está acontecendo e nos vemos diante de um autêntico e reconhecível Kiarostami nos vários momentos de locomoção, que lembram filmes como GOSTO DE CEREJA (1997) e DEZ (2002), que se passam, em boa parte do tempo, dentro de um carro.

A mudança de uma região da Itália com um passado longo ligado a museus, de CÓPIA FIEL, para um Japão moderno com a fragmentação da contemporaneidade só mostra o talento do cineasta em conseguir se adaptar e continuar fazendo grandes obras em territórios tão distintos do seu país natal. No Irã, por exemplo, seria um tanto complicado abordar o tema da prostituição. Mas o diretor faz isso com muita delicadeza, nos apresentando a um senhor idoso (Tadashi Okuno) que contrata os serviços da moça. Ele provavelmente só quer a agradável companhia de uma bela e jovem mulher para aplacar a sua solidão. Muito bonito ver a sua timidez quando ela começa a se mostrar mais atrevida. Em toda essa sequência ela é vista pelo espelho do quarto, como se tivesse se transformado em outra pessoa, ou estivesse usando uma máscara para encobrir quem realmente é. E o filme tem pudores de apresentar tão diretamente essa sua faceta.

UM ALGUÉM APAIXONADO segue surpreendendo, com um andamento deliciosamente lento e uma direção firme de Kiarostami, que se mostra a cada novo filme um dos maiores cineastas da atualidade. Seu encontro com a cultura e a sociedade japonesas, com pessoas que parecem ter mais dificuldade de se relacionar uns com os outros do que nos países ocidentais, é um feliz momento de sua filmografia. Aos poucos, seus personagens vão nos ganhando, à medida que suas vidas vão ficando cada vez mais complicadas ao longo do filme. É um cinema que requer um pouco de boa vontade no início por parte do espectador, mas é impressionante o quando somos recompensados.

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