sexta-feira, julho 12, 2013
SEDE DE SANGUE (Bakjwi / Thirsty)
Enquanto SEGREDOS DE SANGUE (2013), a primeira incursão de Park Chan-wook em Hollywood, não chega em Fortaleza (se é que vai chegar), fui de SEDE DE SANGUE (2009), que não chegou por estas terras também, e que até foi lançado em DVD recentemente. O barato de ver essas experimentações com mitologias ocidentais reinventadas por orientais, principalmente por japoneses e coreanos, é ver o quanto eles se sentem à vontade para fazer o que bem entendem com os costumes, as religiões e as criaturas do Ocidente. A começar por trazer um tipo de vampiro que também é padre.
Em um tempo em que já saiu de moda vampiros terem medo de cruz e de água benta, nada mais curioso do que ver um sacerdote cristão transformado em vampiro, tendo que sobreviver chupando o sangue dos pacientes que estão em coma no hospital, para não ter que se sair matando gente por aí. Song Kang-ho, rosto conhecido de filmes como O HOSPEDEIRO e MR. VINGANÇA (2002), este último também de Park, é o padre Sang-hyeon, um homem devotado que se submeteu a um experimento médico e se tornou uma espécie de vampiro. Se ele não se alimentar de sangue logo, começam a se formar grandes verrugas em seu corpo.
Mas o melhor do filme acontece a partir do momento em que o padre passa a ter um caso com uma jovem mulher casada, Tae-ju (Kim Ok-bin). A primeira relação sexual dos dois, por exemplo, é bastante excitante. E ela vai se revelando uma mulher cada vez mais ousada, até por não gostar do marido, doente, e se achar tão atraída por aquilo que torna aquele sacerdote tão diferente.
Um dos maiores méritos de SEDE DE SANGUE está em seu visual belíssimo. Há uma sequência em que o padre está junto com a mulher e seu marido em um barco. O lugar parece deliciosamente artificial, como uma pintura moderna representando um sonho. Como o padre não pode sair durante o dia, quase todos os momentos do filme acontecem à noite. E esta noite é também pintada de maneira muito bonita, em especial quando vemos as ruas desertas e o vampiro voando ou saltando pelos cantos.
O fantástico do filme também ganha pontos com o uso da violência e do sangue espirrando pelos cantos. E como a narrativa é um tanto lenta, alguns momentos são verdadeiramente surpreendentes. A cena da transformação de Tae-ju em vampira é igualmente inspirada. Ao contrário da maioria dos filmes de vampiros, em que esses seres já aparecem com dentes caninos bem protuberantes e prontos para atacar a vítima, o vampiro de Park precisa se esforçar um pouco mais para furar a pessoa e poder sugar o seu sangue. Em certo momento, ele rasga as línguas dos dois para que ela possa sugar o seu sangue também. A violência, por ser estilizada, não chega a chocar, dada a sua beleza. Muitas vezes o sangue espirradondo parece um balde de tinta sendo derramado em uma tela. E o diretor não precisa se apegar o tempo todo a uma trilha musical para construir uma atmosfera de terror ou suspense.
Legal que Park Chan-wook tenha voltado a ser centro das atenções aqui no Ocidente. Tanto por causa de SEGREDOS DE SANGUE, quanto pelo remake de OLDBOY (2003), a ser lançado em breve, com direção de Spike Lee. Mas o legal mesmo seria se voltassem a lançar com frequência em salas brasileiras produções asiáticas, como ocorreu na primeira metade dos anos 2000, com a popularização dos filmes de horror e afins produzidos no Oriente.
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