quarta-feira, junho 26, 2013
CONFLITOS DE AMOR (La Ronde)
O primeiro e único filme que eu tinha visto até então do cineasta alemão Max Ophüls havia sido CARTA DE UMA DESCONHECIDA (1948), realizado em Hollywood. Sua breve passagem pelos Estados Unidos também foi uma forma de contribuir com mais sofisticação para o melodrama hollywoodiano, que já contava com Douglas Sirk, não por acaso também alemão. CONFLITOS DE AMOR (1950) é da fase francesa do diretor e é mais ousado em sua forma. E também em seu conteúdo, já que trata de histórias de amores proibidos, sejam encontros com prostitutas, sejam encontros com amantes às escondidas.
O que chama a atenção logo de início em CONFLITOS DE AMOR é a figura do narrador, vivido por Anton Walbrook. Ele não apenas apresenta as histórias, mas também contracena, interrompe e provoca os personagens, que aparecerão antes e/ou depois do ato sexual. Há o destaque também da brincadeira com o teatro, do modo como ele se apresenta e muda de roupa e de cenário, para adentrar a Viena do ano 1900. E então, como num passe de mágica, porque cinema é magia, lá está ele na elegante cidade austríaca.
Sua primeira personagem é uma simpática e carente prostituta, que o confunde com um possível cliente. O cliente será um soldado de um quartel ali próximo. Eles procuram um local escuro para descarregarem suas vontades e a câmera os deixa, elegantemente, já que ainda estávamos no começo da década de 1950. O filme, na verdade, já é bastante ousado em tratar com tanta naturalidade e respeito aqueles que praticam sexo fora das normas da cristandade. Creio que Ophüls não o faria nos Estados Unidos.
CONFLITOS DE AMOR narra uma série de pequenas histórias, todas apresentadas com um título pelo narrador. Algumas dessas histórias se entrecruzam. A mulher que tem um amante, por exemplo, conversa depois com o marido, com quem não faz mais sexo já há algum tempo, sobre infidelidade. Ironicamente, na história seguinte, o marido estaria em um local privado com uma jovem amante. E assim Ophüls costura esses contos morais (ou amorais) com muita delicadeza e elegância, muito embora possa ter chocado algumas audiências da época.
O filme é baseado na peça Reigen, de Arthur Schnitzler, mais conhecido do público contemporâneo como o autor que inspirou DE OLHOS BEM FECHADOS, de Stanley Kubrick. Quando do lançamento de Reigen, em 1897, Schnitzler sofreu insultos do público, sendo acusado de pornográfico. A mesma peça foi adaptada e dirigida por Roger Vadim em 1964, tendo Jane Fonda como a primeira atriz americana a aparecer nua em um filme estrangeiro.
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