sexta-feira, abril 19, 2013

O CARTEIRO























A trajetória de Reginaldo Faria como diretor é mais extensa do que muita gente imagina. Começou com OS PAQUERAS (1969), estrelado por ele mesmo, Walter Forster e mais duas belas estrelas da época, Irene Stefânia e Adriana Prieto. E seu trabalho anterior a O CARTEIRO (2011) foi AGUENTA, CORAÇÃO (1984), estrelado também por ele e por Christiane Torloni. O CARTEIRO seria o seu oitavo filme, segundo dados do IMDB, que nem sempre são confiáveis no que se refere a cinema brasileiro.

Remontei a seus trabalhos do passado, que atravessam agora várias décadas, para dizer que O CARTEIRO não é obra de diretor estreante ou inexperiente. E, no entanto, sai um trabalho desses, tão ruim, com um roteiro tão mal cuidado. Aliás, eu cheguei a discutir algumas vezes quando diziam que o problema do cinema brasileiro eram roteiros ruins, mas ultimamente eu estou tendo que concordar, embora eu ainda acredite que uma boa direção - e também uma boa edição – são capazes de salvar um filme.

Mas não é o caso de O CARTEIRO, que estraga uma trama que tinha tudo para ser no mínimo agradável: a de um carteiro de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul que tem o hábito de violar as cartas dos habitantes para saber das vidas das pessoas. Para ele, a cidade era pequena demais e esse seu ato criminoso a tornava interessante. Até que chega o dia em que ele conhece uma garota recém-chegada à cidade e se apaixona por ela. Descobre, porém, que ela tem namorado, mas é um namoro à distância, por cartas. Que ele trata de ler e até de esconder ou inventar cartas para benefício próprio.

A ideia é boa, mas é impressionante como o filme trata de jogar tudo no ralo. A começar pelo protagonista, o jovem carteiro (Carlos André Faria), que tem um amor platônico pela bela moça (Ana Carolina Machado), mas que só faz bobagem. Tudo bem que quem está apaixonado pode cometer muita besteira, mas esse rapaz e seu melhor amigo conseguem ser tão idiotas que chega a incomodar. E o filme vai seguindo com um enredo que antes da metade vai se tornando cada vez mais insuportável. Caso mesmo de desejar que acabe logo para ir embora.

Quem quase consegue salvar o filme, ainda que por alguns momentos, é a viúva fogosa dona da pensão, que tem desejos fortes pelo carteiro, e é bem sexy. Trata-se de Fernanda Carvalho Leite, que já trabalhou com o Carlão Reichenbach como a personagem Lucineide na dobradinha GAROTAS DO ABC e FALSA LOURA. Dá até pra imaginar a diferença que seria se fosse o Carlão dirigindo. O quanto ele aproveitaria da sensualidade dessa mulher e do enredo como um todo.

Reginaldo Faria, porém, preferiu voltar no tempo e fazer um filme ingênuo, ensaiou uma espécie de saudosismo do ato de escrever cartas, com flertes com a literatura, especialmente com Machado de Assis, mas que infelizmente só serviu para deixar o espectador aborrecido ou, pior, constrangido. O CARTEIRO foi filmado na bela cidade de Santa Maria, que foi palco recentemente de uma triste tragédia. Pode-se dizer que as paisagens do lugar ajudam o filme a dar um pouco de respiro ao desapontado espectador.

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