terça-feira, abril 02, 2013
A HOSPEDEIRA (The Host)
Talvez só houvesse uma maneira de salvar A HOSPEDEIRA (2013): se o diretor se afastasse cada vez mais de suas origens literárias e procurasse reescrever a trama, aproveitando apenas o seu esqueleto. Afinal, a culpa de a trama ser tão ruim e tão mal construída vem do próprio texto de Stephenie Meyer, a autora da Saga Crepúsculo, que aqui encontra novamente o apoio e a cumplicidade de seus leitores na apreciação da adaptação para o cinema de sua mais recente obra. Então, os mesmos gritos, palmas e outras manifestações de exaltação com aparentemente pequenas coisas podem ser testemunhados em algumas sessões.
Nem mesmo a experiência em ficção científica do diretor Andrew Niccol consegue salvar A HOSPEDEIRA, que tem um quê de filme B, procurando disfarçar suas limitações orçamentárias com cenas bonitas do deserto do Novo México. Mas não é esse o problema. Também não é a escolha de Saoirse Ronan, a talentosa jovem alçada ao estrelato pelos seus trabalhos memoráveis com o diretor inglês Joe Wright. A atriz até parece se esforçar bastante para dar vida àquela personagem dupla. Aliás, outra das falhas do filme é não saber transformar aquele diálogo entre as duas habitantes do mesmo corpo em algo bem humorado.
A trama mostra a humanidade com suas mentes dominadas por alienígenas parasitas que dominaram a Terra há alguns anos, deixando poucos humanos escondidos. Entre eles, o casal de jovens formado por Melanie (Saoirse) e Jared (Max Irons). Nota-se que a ideia desse tipo de dominação à Terra não é nova. É bastante parecida com a de VAMPIROS DE ALMAS, de Don Siegel, e de seus outros três remakes. A diferença é que o tom deste filme não é de horror, nem mostra o início do domínio dos alienígenas, mas uma sociedade já dominada.
Além do mais, como é de praxe na obra de Meyer, há a tendência em dar maior atenção às relações amorosas, o que não seria um problema se tudo não fosse tão mal construído. Há aqui um quadrado amoroso adolescente, em vez de um triângulo amoroso como nos filmes dos vampiros, já que a entidade que assume o corpo da jovem Melanie (Saoirse) começa aos poucos a brigar com sua hospedeira e, posteriormente, a gostar de um dos rapazes do grupo de resistência. Daí vem o diálogo com a voz em off de Melanie, que não pode ser ouvida pelos demais personagens, apenas pela Peregrina (a alienígena que assumiu o corpo de Melanie) e por nós, espectadores.
As ações são infantis e os diálogos fracos, mostrando claramente com que tipo de escritora estamos lidando, sem precisarmos ler sequer um de seus livros. Afinal, tudo que ela escreve se reflete nos filmes. No entanto, a produção consegue trazer, além da talentosa Saoirse, a bela Diane Kruger e o hoje veterano William Hurt, ator de primeira grandeza que, infelizmente, hoje em dia tem ficado restrito a papéis de coadjuvante.
A HOSPEDEIRA não apenas consegue ser pior do que qualquer filme da Saga Crepúsculo, que pelo menos conseguiam divertir: ele chega a incomodar de fato. É como se Niccol pegasse o seu pior filme – SIMONE (2002) –, aproveitasse sua assepsia e o desinteresse que aquele filme gera e somasse com o que há de pior nos roteiros escritos em Hollywood.
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