sexta-feira, abril 26, 2013
A CANÇÃO PROMETIDA (A Song Is Born)
É raro eu não gostar de um filme de Howard Hawks, um dos meus cineastas favoritos. Por isso, quando digo que não gosto de OS HOMENS PREFEREM AS LOURAS (1953) muita gente fica admirada. Enquanto não o rever, continuarei achando o filme vulgar. A CANÇÃO PROMETIDA (1948) é outro desses filmes menores do diretor, mas que aos poucos foi me ganhando até chegar ao bonito, ainda que ingênuo, final. Que combina com o personagem do estudioso de música que se apaixona por cantora de boate ligada com gângsteres da pesada.
A história é praticamente a mesma à do superior BOLA DE FOGO (1941), mas tem um diferencial: a música. Que, aliás, foi outra coisa que não me agradou a princípio, pois achava que aquilo que aqueles músicos pensavam que sabiam sobre a música do mundo – e que pretendiam incluir numa enciclopédia – era numa visão bem estereotipada.
Até mesmo a visão simplificada como eles tentam resumir a história da música negra nos Estados Unidos me pareceu fraca. Outra coisa: entre tantos cantores de jazz e blues e outras correntes da música negra daquele período, por que justamente trouxeram uma cantora branca para ser a cantora de blues (é blues mesmo o que ela canta?) e ser o interesse amoroso do protagonista?
Falando assim, até parece que eu quero dar uma de Spike Lee, mas ficou essa impressão de que os negros ficaram como meros coadjuvantes, apesar de serem vitais na construção da música americana. Inclusive, numa cena em que um dos trabalhadores negros toca umas notas no piano, o que ouvimos ali é uma espécie de proto-rock’n’roll. Mas temos que ver o ano em que foi produzido o filme: se até os anos 60, os negros eram colocados sempre em posição subalterna, imagine naquela época.
Na trama, professor e pesquisador de música (Danny Kaye) sai em boates e casas de música da cidade depois de perceber que ficou muito tempo afastado do que estava acontecendo na música contemporânea. Conhece uma cantora em uma boate (Virginia Mayo), apresenta-se em seu camarim, mas logo é deixado de escanteio pela moça. Acontece que ela passa a ser perseguida por um grupo de gângsteres e o seu grupo, entre eles o seu namorado, acha por bem aceitar a ideia de ela ficar na casa desse músico, que vive com mais seis amigos mais velhos, enquanto a poeira assenta. Ela não fala nada sobre quem é realmente e, aos poucos, o sensível, tímido e ingênuo professor começa a se apaixonar por ela.
Como se trata de uma comédia (com alguns momentos musicais) mais ou menos convencional, é de se esperar que haja um final feliz. E felizmente Hawks faz com que o final saísse divertido e bonito, ainda que fique no ar aquela sensação de que acabamos de ver um Hawks bem abaixo da média. Na entrevista para Bogdanovich, tanto o entrevistador quanto ele acharam o filme fraco. Hawks chegou a dizer que nunca o viu montado e só o fez por causa do valor exorbitante que o produtor Samuel Goldwyn lhe ofereceu. Para ver como às vezes dinheiro só estraga as coisas.
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