segunda-feira, março 11, 2013

AS 4 AVENTURAS DE REINETTE E MIRABELLE (4 Aventures de Reinette et Mirabelle)























Desde 2010, com a morte de Eric Rohmer, que eu não assistia um de seus deliciosos filmes. Com tanto lixo passando nos cinemas, é sempre bom poder se desintoxicar com as pérolas deste que, com o tempo, acabou se tornando o meu cineasta francês favorito. Então, também para matar a saudade, resolvi pegar para ver AS 4 AVENTURAS DE REINETTE E MIRABELLE (1987), um trabalho que poderia muito bem se enquadrar na série "Seis Contos Morais", que o cineasta lançou nas décadas de 60 e 70. Mas no caso de AS 4 AVENTURAS DE REINETTE E MIRABELLE, a diferença é que não se trata de uma única história, mas de quatro. Quatro episódios tratando de diferentes assuntos, mas que, pelo menos em dois deles, a questão moral é discutida.

Em MINHA NOITE COM ELA (1969), senti-me incomodado com o protagonista por ter rejeitado o convite de sexo de uma mulher tão atraente, logo depois de o diretor ter criado um clima tão sensual. Eis que também me senti irritado com uma personagem "certinha" de AS 4 AVENTURAS DE REINETTE E MIRABELLE; no caso, Reinette. Ela volta para pagar um café no outro dia, mesmo tendo fugido com a amiga por não ter dinheiro trocado; ela pega no flagra uma mulher que passa golpes na estação, dizendo que está precisando de dinheiro para o ônibus, e tenta ir à forra; ela julga a amiga Mirabelle por ter trazido para casa alimentos roubados por uma cleptomaníaca.

Sim, ela está certa. E sim, eu provavelmente faria o mesmo, principalmente no caso do café, no divertido episódio do garçon, sem dúvida o mais engraçado dos quatro. Mas talvez parte de mim queira ser aventureira como a Mirabelle, ser capaz de fazer algo proibido só pelo prazer de mudar a rotina e sentir a adrenalina correndo nos sangue. E o interessante também é que Rohmer, por ser um cineasta que geralmente lida com coisas do dia a dia, torna coisas banais em coisas grandes.

Se bem que eu não acho nada banal a fascinante "hora azul", que, segundo Reinette, é uma hora em que o mundo parece parar de respirar. São cerca de 10 minutos pouco antes do nascer do sol, em que os pássaros da noite param de cantar e os pássaros do dia ainda não começaram o seu canto. Até mesmo os animais que rastejam param de fazer qualquer ruído. E isso só pode ser percebido num lugar no campo, sem o barulho da cidade. Rohmer, assim como fez em O RAIO VERDE (1986), repete novamente essa magia que parece existir na vida cotidiana.

O filme é constituído de quatro episódios de menos de meia hora cujos títulos são: "L'Heures Bleue"; "Le Garçon de Café"; "Le Mendiant, la Kleptomane et l'Arnaqueuse"; e "La Vente du Tableau". Alguns rostos conhecidos, de outros filmes de Rohmer, como NOITES DE LUA CHEIA (1984) e UM CASAMENTO PERFEITO (1982), podem ser vistos em pequenos mas importantes papéis. E tudo é apresentado com um senso de humor que faz com que a gente veja o filme com um sorriso de satisfação no rosto.

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