domingo, janeiro 27, 2013

O MESTRE (The Master)



Paul Thomas Anderson, mesmo tendo uma carreira relativamente curta, se firmou como um dos cineastas mais talentosos de sua geração. Mas algo que fui percebendo ao longo de sua filmografia e que se mostrou em altíssimo grau neste O MESTRE (2012) é a sua capacidade de incomodar nosso espírito. Em seus dois primeiros filmes, JOGADA DE RISCO (1996) e BOOGIE NIGHTS – PRAZER SEM LIMITES (1997), não é tão sentido, mas a partir de MAGNÓLIA (1999), esse incômodo vai ganhando mais força.

O uso da música incidental ou mesmo de algumas canções acabam contribuindo para esse sentimento de angústia a partir de MAGNÓLIA e EMBRIAGADO DE AMOR (2002). Com SANGUE NEGRO (2007), Anderson passou a ganhar a parceria de Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, que está onipresente na saga do homem que enriquece com petróleo. Aquela música às vezes incômoda contrasta com o prazer estético que sentimos ao ver o filme. Essa é, aliás, uma das grandes virtudes da arte em geral, que consegue ao mesmo tempo incomodar e agradar. E se o intuito do diretor é mesmo causar incômodo, é um sinal de que ele foi bem sucedido.

Em O MESTRE, Anderson está em parceria novamente com Greenwood, mas desta vez a música do compositor é bem mais discreta. Há muitas sequências sem música no filme. Anderson resolveu apostar na força das imagens (e das palavras) para causar incômodo. A ponto de eu poder dizer que desgostei do filme, embora tenha por ele respeito. Muito provavelmente por causa do diretor. Porém, perdi a conta de quantas vezes olhei para o relógio, querendo que aquele filme acabasse logo. O peso das horas parecia interminável. Não via com bons olhos a ideia de acompanhar a história de dois homens por quem não nutria a mínima simpatia.

Joaquin Phoenix, como o desajustado e desarranjado Freddy, é um sujeito asqueroso até. E a sua sexualidade à flor da pele é mostrada de maneira animalesca na cena em que ele se masturba na praia. Freddy também tem o hábito de tomar um coquetel em que mistura bebida alcóolica com redutor de tinta e outras coisas que tornam aquilo um veneno. Assim, o sentido de sua vida se resume principalmente ao sexo (ou no pensar em sexo) e às bebidas. E depois de aprontar muita confusão, vai parar num barco em que está presente um sujeito enigmático, o homem por quem Freddy iria seguir como um apóstolo, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman).

A figura de Dodd gera certa dúvida no começo. Afinal, o filme quer mostrar a imagem de um charlatão pura e simplesmente? No fim das contas, a seita que ele criara, chamada de "A Causa", não é mostrada com muita profundidade. O que se sabe é que ele acredita que viagens no tempo induzidas por hipnose (ou pela própria imaginação) podem ajudar a resolver os problemas da vida presente da pessoa.

Mas a intenção de Anderson não é se aprofundar na doutrina e nos dogmas de Dodd, embora também funcione como uma crítica a certos líderes religiosos, principalmente a L. Ron Hubbard, o escritor de livros de ficção científica e criador da Cientologia. Uma das cenas mais impressionantes, inclusive, é uma em que a personagem de Laura Dern pergunta a Dodd sobre a mudança em determinado "dogma" no segundo livro lançado pelo mestre espiritual.

A intenção de Anderson é provavelmente mostrar a ambiguidade daquele homem, que também tem bons sentimentos, que parece gostar de verdade daquela criatura meio animalesca que ele encontra e que tem a intenção de moldar ao seu gosto, que é o Freddy. Isso se manifesta principalmente no final do filme. Quanto a Phoenix, o ator nunca se mostrou tão torto e tão corcunda. É ele, e não Dodd, a maior representação deste filme, o mais problemático dos trabalhos de Anderson.

O MESTRE recebeu três indicações ao Oscar, nas categorias de ator (Joaquin Phoenix), ator coadjuvante (Philip Seymour Hoffman) e atriz coadjuvante (Amy Adams).

Nenhum comentário:

Postar um comentário