terça-feira, dezembro 04, 2012
UMA NOITE NO RIO (That Night in Rio)
"Carmen Miranda é uma hindu, mais do que uma brasileira. Há turbantes coloridos, braços de serpentes, mãos como cabeças de cobras [...] [Ela] consegue não só ser hindu – ela consegue ser a hindu e a serpente."
(Vinícius de Moraes)
Nunca tinha visto nenhum filme com a Carmen Miranda. Acabei vendo este UMA NOITE NO RIO (1941) por ser objeto de discussão de um grupo de estudo do qual participo. Aí acabei ficando curioso e vi a cópia existente na internet. Acabei gostando do filme, uma farsa musical que se vista por alguém que não é brasileiro pode não incomodar de jeito nenhum. Já para alguns brasileiros, como eu, a própria Carmen Miranda incomoda, com a dificuldade que se tem de se ver representado como brasileiro em sua figura, em seu samba americanizado e em suas vestimentas exóticas.
UMA NOITE NO RIO traz também uma estrela hoje um tanto esquecida, Alice Faye, uma bela loira que fez sucesso em sua época. Inclusive, saiu um box nos Estados Unidos com alguns filmes estrelados por ela e que devem fazer a festa principalmente de quem acompanhou seus filmes na época. UMA NOITE NO RIO fez parte desse box.
O filme começa com uma imagem bem alegre do Rio de Janeiro e com Carmen Miranda cantando "Chica-Chica-Boom-Chica". Não deixa de ser estranho vê-la cantando e falando português misturado com o inglês. Sua personagem é uma espécie de mulher selvagem. Atira o sapato no namorado galanteador Larry Martin (Don Ameche) quando fica com raiva dele. E costuma ficar furiosa falando português. Aí Larry diz que ela deve se acalmar e falar inglês, pois you’ll never learn unless you speak [English], and you can’t speak if you get excited. English isn’t that kind of a language. So, don’t get excited. Assim, fica logo no ar a ideia de que o brasileiro é irracional e o americano é racional.
Além do mais, a personagem de Carmen acaba não sendo importante para a história em si. A história principal envolve a substituição do Barão Duarte (também interpretado por Ameche) por seu sósia, o ator americano Larry Martin. A entrada em cena de Martin acaba gerando alguns momentos engraçados, como a cena da bolsa de valores, ou as confusões envolvendo a esposa do Barão. Enquanto isso, Carmen Miranda vai ficando à margem, sendo importante mais para as cenas musicais.
Aliás, há outras cenas musicais sem ela que são bem mais bonitas, pois se mostram mais autênticas. Afinal, são americanos cantando canções típicas dos musicais americanos. Junta-se com a bela fotografia em technicolor e os cenários de estúdio, essas cenas musicais em vez de incomodar até engrandecem o filme, que é simpático, mesmo com todos esses problemas envolvendo uma brasileira americanizada agindo feito uma macaquinha dentro da chamada política da boa vizinhança do Governo Roosevelt.
Referência:
SOARES, L.F.G. Hollywood e ambivalência no Rio. In: CORSEUIL, A.R. et AL (org.). Cinema: lanterna mágica da história e da mitologia. Florianópolis: Editora da UFSC, 2009.
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