quarta-feira, dezembro 12, 2012
QUATRO CURTAS BRASILEIROS
Acho que nunca vi tantos curtas-metragens bons quanto neste ano de 2012. E a grande maioria, brasileiros. Neste post, falo brevemente de dois curtas recentes e bastante premiados que muito me agradaram e dois outros de décadas passadas, que não me agradaram tanto assim, mas que são interessantes e marcantes, cada um à sua maneira.
DOCE DE COCO
Comecemos com DOCE DE COCO (2011), do cearense Allan Deberton. Perdi de ver este curta quando ele foi exibido no Cine Ceará do ano passado, mas tive sorte de vê-lo abrindo a sessão de MÃE E FILHA, de Petrus Cariry, outro belíssimo exemplar de cinema feito no Ceará. No caso de DOCE DE COCO (foto), o que mais me impressionou foi a delicadeza e a sensibilidade com que o diretor tratou uma história tão simples. Como ele esteve presente à sessão, eu cheguei a perguntar a ele se o resultado foi um "acidente" ou se estava mesmo tudo na cabeça dele, já que o esqueleto da história é bastante simples: jovem engravida de um rapaz conquistador da cidadezinha onde mora e começa a ser vista com desgosto pelo pai, enquanto a mãe se mostra mais compreensiva. Algumas tomadas são lindas em sua simplicidade, como a que a protagonista nada na lagoa e a câmera a acompanha. É o caso de filme que a gente quer ter em casa para mostrar para os amigos.
A FÁBRICA
Outra bela surpresa foi este A FÁBRICA (2011), de Aly Muritiba, que eu vi na 7ª Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul, abrindo a sessão de HOJE, de Tata Amaral, e me agradando muito mais do que o filme principal. Inclusive, vale lembrar que A FÁBRICA foi pré-selecionado para o Oscar de melhor curta-metragem. Está entre os 11 semifinalistas. Se por acaso ele não ficar entre os cinco, isso não vai tirar o brilho deste trabalho que lida com o sentimento de maternidade e paternidade de maneira bem bonita. Na trama, mãe arranja um jeito bem corajoso de entrar com um telefone celular em uma penitenciária para passá-lo para o filho em um dia de visita.
AMOR!
Vi no Canal Brasil este interessante curta de José Roberto Torero (de COMO FAZER UM FILME DE AMOR, 2004). AMOR! (1994) é bem a cara dos filmes realizados naquele momento pré-retomada, isto é, são filmes que têm um senso de um humor, ou até um cinismo, bem curioso. No caso de AMOR!, difícil não lembrar de ILHA DAS FLORES, de Jorge Furtado, que não por acaso também conta com uma narração do Paulo José. No caso de AMOR!, vemos alguns rostos conhecidos também, como o de Guilherme Karan, que me fez perguntar por onde ele andava. E acabei ficando muito triste ao saber que ele anda muito doente, com uma doença degenerativa, que faz a pessoa perder as habilidades motoras e que pode levar a uma morte precoce. Triste saber disso, até porque quem via e gostava da TV PIRATA deve gostar dele e daquela turma toda. Quanto a AMOR!, é um filme de pequenas histórias sobre relacionamentos amorosos (ou pontos de vistas sobre o que é o amor), vistas com certo humor negro.
NOSFERATO NO BRASIL
O primeiro filme de Ivan Cardoso foi este curta em 8mm feito durante um período fervilhante para a contracultura brasileira. E Torquato Neto, o poeta e compositor que faz o papel do vampiro do filme, fez parte da Tropicália, dos discos dos artistas baianos, do Cinema Marginal e da Poesia Concreta. Pena que ele decidiu morrer tão cedo, aos 28 anos. NOSFERATO NO BRASIL (1970) se divide em dois momentos: o do vampiro em Budapeste e o de suas aventuras no Rio de Janeiro, com direito a bossa nova e até a "Detalhes", de Roberto Carlos, tocando ao fundo. Por isso que eu acho que esta data de 1970 está errada, tanto porque o disco do Roberto só sairia em 71, quanto pelo fato de o filme mostrar o ano de 1971 como sendo palco das ações do vampiro. O senso de humor de Ivan Cardoso já estava lá, principalmente quando mostra Nosferato só de calção de banho e capa rubro-negra numa praia carioca.
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