domingo, dezembro 02, 2012
O HOMEM DA MÁFIA (Killing Them Softly)
Tenho gostado desses cineastas corajosos que burlam a velha fórmula hollywoodiana e fazem filmes sem concessões. Aliás, levando em consideração a longa duração de O ASSASSINATO DE JESSE JAMES PELO COVARDE ROBERT FORD (2007), pode até ser que Andrew Dominik tenha aceitado cortar algumas cenas de seu novo trabalho, O HOMEM DA MÁFIA (2012). No lugar de um thriller policial convencional, Dominik faz um filme com muita conversa. No começo lembra bastante os filmes de gângster de Quentin Tarantino e Martin Scorsese, mas o trabalho de Dominik é bem mais preocupado com a crítica ao american way of life e ao sistema político do país como um todo do que com o enredo e seus personagens.
Tanto que todo o contexto no qual o filme se insere, que acontece em 2008, com a crise financeira que quebrou várias empresas e fez com que o Governo de George W. Bush intervisse, ao mesmo tempo em que também vemos os momentos finais da campanha que elegeria Barack Obama, todo esse contexto acaba ganhando bem mais importância do que a história de assassinatos e violência dos mafiosos. Principalmente graças ao pungente discurso final do personagem de Brad Pitt.
Diferentemente do filme anterior, Dominik traz aqui uma narrativa menos lenta e contemplativa, mas nem por isso mais fácil. A própria fotografia de O HOMEM DA MÁFIA é mais suja e os cenários são soturnos, com ruas e bares vazios, bem diferente da beleza dos espaços abertos e céu azul de O ASSASSINATO DE JESSE JAMES... O diretor faz questão de mostrar os Estados Unidos numa situação tão grave quanto nos tempos da Grande Depressão. Tanto que até os carros mostrados parecem contribuir para esse ar de anacronismo que o filme carrega.
Trata-se de um filme de homens. Praticamente não há mulheres no elenco. Curiosamente, Brad Pitt só aparece depois de uns trinta minutos da trama, que se inicia com o divertido diálogo dos dois ladrões que assaltarão uma mesa de apostas clandestina. Essa mesma mesa já havia sido assaltada anos atrás pelo próprio dono, Markie Trattman, vivido por Ray Liotta. Agora o plano vem de outro veterano da máfia que contrata a dupla, acreditando que as pessoas suspeitarão de Trattman.
Brad Pitt surge como o interventor, o homem contratado para botar ordem na casa, de preferência sem ter que fazer, ele mesmo, o serviço sujo. Pitt está excelente na pele de Jackie Coogan, com seu jeito muito confiante de se portar. O elenco ainda conta com pelo menos mais dois nomes brilhantes: James Gandolfini e Richard Jenkis, que ajudam a valorizar a obra sem ter que fazer muito esforço.
Há cenas de violência gráfica, mas elas são vistas com certo distanciamento e até mesmo tentando criar uma espécie de poesia da violência, em especial numa sequência da morte de um dos personagens, vista em câmera (bem) lenta e com uma canção bela e suave ao fundo. Isso faz com que o espectador fique desconcertado quanto às intenções do diretor.
O neozelandês Andrew Dominik , com apenas três filmes no currículo, chegou àquela categoria de cineastas cujos trabalhos até se assiste com um pé atrás, como um Michael Haneke ou um Lars von Trier. No entanto, é um nome para se prestar atenção. Os festivais já o veem como um autor importante, vide a inclusão de seu filme na edição deste ano de Cannes.
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