domingo, novembro 04, 2012
TRABALHAR CANSA
Depois de ver uma porcaria homérica nos cinemas, nada como lavar a alma com um filme nacional de respeito como TRABALHAR CANSA (2011). Mais do que isso, a obra de Marco Dutra e Juliana Rojas representa um novo e excitante caminho para o cinema brasileiro, que também pode ser experienciado em outras obras recentes de membros do grupo Filmes do Caixote. Falando apenas do que eu vi: os curtas UM RAMO (2007) dos mesmos diretores; e O DUPLO (2012), filme solo da Juliana; e o longa O QUE SE MOVE (2012), de Caetano Gotardo, que teve Juliana Rojas como montadora e Dutra como coautor das canções. Ah, e Gotardo também assina o roteiro de TRABALHAR CANSA.
Esses três autores representam um caso especial em nossa cinematografia e que infelizmente foram descobertos por um pequeno grupo de pessoas. O que caracteriza em parte esses filmes é a junção do drama rotineiro com o cinema fantástico, com o horror. E trazer TRABALHAR CANSA para o cinema de gênero não deixa de ser animador, embora também seja redutor. Isso porque eu tenho gostado desses filmes cujos gêneros se interpenetram e se confundem, que até no cinema americano tem ótimos representantes.
O filme começa com a chegada em casa de Helena (Helena Albergaria). Ela percebe que o marido, Otávio (Marat Descartes), está triste e abatido. A razão disso: ele foi demitido. Isso acaba deixando ambos deprimidos, mas não impede que ela avance com seu sonho de abrir um mercadinho. Ela aluga um lugar, que já havia passado por dois outros comerciantes, mas estranhas coisas começam a acontecer. E o interessante é que o filme cria uma atmosfera de medo e tensão sem necessariamente mostrar algo horripilante - pelo menos até determinado momento. É o trato com o mistério dentro de coisas corriqueiras da vida que faz de TRABALHAR CANSA um objeto único.
É um filme difícil de desgrudar os olhos, uma vez que se começa a assistir. Ainda que um leve sentimento de angústia nos domine. O drama dos personagens, inclusive da filha do casal e da empregada recém-contratada, também é tratado com sensibilidade. Não vou tentar arriscar dizer o que representaria o horror no filme. Seria metáfora do quê? Isso é deixado em aberto, mas a relação entre o aspecto fantástico e a vida profissional e afetiva dos personagens está de certa forma clara.
TRABALHAR CANSA foi lançado em DVD pela Lume e traz dois extras especiais: o making of e o curta BOAZINHA DEMAIS PRA SER PATROA, montado por Caetano Gotardo com cenas deletadas do longa. Não cheguei a ver o disco à venda nas lojas daqui, mas recomendo fortemente. Inclusive, gostaria muito de ver esses extras.
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