sexta-feira, setembro 21, 2012

CONTOS DA LUA VAGA (Ugetsu Monogatari)



E chegou o dia em que eu finalmente me encantei com o cinema japonês em live action, já que eu já curtia inúmeros animes nipônicos. Sempre tive alguma resistência aos filmes. Por melhores que fossem, havia algo que não me deixava totalmente satisfeito ou sentisse aquela emoção extraordinária depois de ter visto uma obra-prima, como a de um Hawks, um Buñuel, um Ford, um Murnau, um Khouri. Mesmo um cineasta que é dito como sendo mais próximo da cultural ocidental como Akira Kurosawa não chegou a me encantar até hoje. E assim, fui deixando de ver algumas obras essenciais.

Mas chegou o dia em que eu vi CONTOS DA LUA VAGA (1953), de Kenji Mizoguchi, esse assombroso filme que conta a história de dois casais vivendo em circunstâncias difíceis no Japão do século XVII. E o adjetivo assombroso que eu usei não foi em vão. Há realmente momentos em que o filme adentra o território do horror. E se sai muito melhor do que muito filme que se diz de horror.

O fato de o filme ser bastante movimentado e pouco contemplativo ajuda a tornar a história fluida e sempre instigante. Há também toda a construção atmosférica, que começa a ficar sombria quando os dois casais de protagonistas e mais o filho pequeno estão dentro de um pequeno barco. Lá, eles avistam um outro barco à deriva, com um homem moribundo, que os deixa aterrorizados. Há uma neblina que cobre o lago, que deveria ser um lugar de segurança contra os homens que tentam se apoderar das casas e pegar homens para lutar à força em suas batalhas. Mas o perigo só muda de cara para esses personagens.

Em CONTOS DA LUA VAGA, as mulheres têm sempre razão: um dos homens fica muito feliz com o dinheiro que consegue ganhar com o seu trabalho de olaria e começa a ficar ambicioso; o outro tem o sonho de ser samurai e não tem dinheiro para comprar as ferramentas necessárias para se ornamentar. As esposas são contrárias aos desejos de seus maridos, mas não conseguem detê-los.

A grande surpresa do filme está na aparição de uma mulher rica, que logo na primeira vez que surge já causa certo arrepio. É impressionante como Mizoguchi consegue fazer isso sem utilizar efeitos especiais ou qualquer mudança brusca. Apenas a câmera, a maquiagem e o figurino dessa mulher. É a sua capacidade de construir uma atmosfera sobrenatural, mesmo sendo tudo tão palpável à primeira vista, que torna o seu filme tão especial. E que me deixou arrepiado, emocionado, assombrado e encantado. Tudo ao mesmo tempo.

Ia ler alguns textos sobre Mizoguchi antes de escrever esta postagem, a fim de aprender mais sobre o cinema deste mestre, mas preferi fazer o texto sem ter lido nada a respeito. Pelo menos por hora, já que fiquei bastante interessado em me inteirar cada vez mais no universo mizoguchiano. Aceito sugestão de leituras.

CONTOS DA LUA VAGA ficou entre os 50 melhores filmes eleitos da revista inglesa Sight and Sound. Na verdade, ele ficou na quinquagésima posição, empatado com LUZES DA CIDADE, de Charles Chaplin, e LA JETÉE, de Chris Marker. Ficou em excelente companhia.

 P.S.: No Blog de Cinema do Diário do Nordeste, um post de reclamação. Confira AQUI.