segunda-feira, agosto 20, 2012
UMA GARRAFA NO MAR DE GAZA (Une Bouteille a la Mer)
O cinema francês é, sem dúvida, atualmente, o que está mais ligado a questões que outras cinematografias parecem alheias, ou lidam de maneira unilateral. Prova disso é que dos 17 fiilmes do Festival Varilux de Cinema Francês, cinco deles tratam de questões políticas internacionais, como a emigração ou a questão dos palestinos, judeus, libaneses e africanos. Os franceses têm um histórico rico de "contaminação" com outras culturas há tempos.
UMA GARRAFA NO MAR DE GAZA (2011), de Thierry Binisti, narra o relacionamento quase impossível de um palestino vivendo na Faixa de Gaza e uma judia francesa que mora em Jerusalém. A relação se estabelece a partir de um velho procedimento: a de um manuscrito enviado dentro de uma garrafa. A ideia partiu dela, que, com mais sensibilidade do que a maioria dos israelenses, resolve escrever esta carta a fim de que alguém "do outro lado" pudesse responder e ela pudesse obter uma comunicação usando inicialmente o inglês como língua mais "universal".
O curioso é que o filme não pinta os palestinos da Faixa de Gaza como coitadinhos, mas como pessoas até alegres, mesmo diante de tantas adversidades. Obviamente há um contraste entre a vida mais luxuosa dos israelenses (embora eles também sofram com a tensão provocada pelos homens-bomba) e a dos palestinos. Mas o que o filme mais acentua é a barreira existente entre esses dois jovens que se conhecem "por acaso". Se não fosse pela internet, isso jamais teria sido possível.
A pluralidade de línguas dessa produção franco-israelense-canadense (hebraico, árabe, francês e inglês) conta pontos para o filme, tornando-o mais realista, embora o enredo seja uma variação da velha história do amor impossível. Mas há a intenção de nos apresentar à realidade dos dois. Como tinha lido "Palestina – Uma Nação Ocupada" e "Palestina – Na Faixa de Gaza", ambos de Joe Sacco, minha impressão da Faixa de Gaza era muito pior. Pelo visto as coisas melhoraram um pouco, se o filme estiver fazendo um retrato fiel da vida dos palestinos dessa região.
Outro ponto positivo é o modo como o filme nos envolve aos poucos no drama dos personagens. Não é a maior maravilha do mundo, mas é muito melhor do que se espera. Para mim, era um dos que eu menos queria ver da mostra, e por obra do "acaso", e por estar longe da cidade nos últimos dias, não pude ver alguns dos que mais gostaria.
UMA GARRAFA NO MAR DE GAZA está previsto para estrear em circuito comercial no dia 31 de agosto.